Título: Morte do perito não foi natural, mostram exames
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Nacional, p. A6

A primeira bateria de exames no cadáver de Carlos Delmonte Printes, o legista, descartou preliminarmente a hipótese de morte natural - que a polícia defendia como mais provável - e mergulhou o caso em mistério. A indefinição sobre a causa da morte do perito que apontou sinais de tortura no corpo de Celso Daniel alimenta suspeitas e dúvidas dos promotores de Justiça que investigam o assassinato do prefeito do PT de Santo André.

Os promotores apontam o suicídio como 'mais provável', mas não descartam que Delmonte pode ter sido assassinado, embora considerem tal possibilidade 'muito remota'.

Eles falam até em morte por envenenamento, com a ressalva de que isso é mais uma hipótese e que apenas o laudo pericial indicará o que houve com o legista. 'Ele não foi vítima de morte violenta, nem de morte natural, a investigação é para envenenamento', declarou o promotor Roberto Wider.

'O envenenamento pode ser acidental, até pela ingestão de alimento estragado, nenhum caminho pode ser desprezado.'

'A hipótese do assassinato não está afastada', disse o promotor Marcelo Millani, que a Procuradoria-Geral de Justiça convocou para acompanhar o inquérito.

Delmonte apareceu sem vida em seu gabinete particular, na Vila Mariana, quarta-feira à tarde. O corpo foi encontrado por um filho da vítima, Guilherme, destinatário de uma carta escrita em papel sulfite na qual Delmonte recomenda algumas providências no caso de sua morte - ele chamou a atenção para datas de contas a vencer, comunicou sobre o lugar onde guardou cópia de sua declaração de rendas, registrou o número de sua conta bancária.

Fez, ainda, dois pedidos, mas não foi atendido: que não o submetessem à autópsia e que seu corpo fosse cremado. A Justiça não autorizou a cremação e seus colegas, sete legistas e patologistas, passaram a madrugada debruçados sobre seu corpo, estirado na mesa de aço de uma sala do Instituto Médico Legal em Pinheiros. Ali, Delmonte trabalhou por 21 anos.

Após 3 horas e meia de trabalho, a equipe médica não chegou a uma conclusão sobre a causa da morte, mas afastou a pneumonia e a miocardite como agentes provocadores - o Departamento de Homicídios, que conduz a investigação, acreditava nisso desde que a família de Delmonte informou sobre sua saúde precária.

Os legistas passaram, então, para a segunda etapa da necropsia - do morto arrancaram o coração, as vísceras, cérebro, intestino, pulmões e olhos que serão submetidos a exame toxicológico (sangue e urina), além de perícia cromatográfica, que qualifica e quantifica drogas eventualmente alojadas em órgãos vitais. O procedimento foi acompanhado pela promotora de Justiça Eliana Passarelli.

Os legistas estão em busca da pista que pode levá-los à explicação para a morte - veneno, droga, medicamentos em excesso. No Laboratório de Toxicologia Forense do IML eles adotam técnicas de triagem e de confirmação, com uso de microscópios, para identificação de substâncias agressivas.

Os peritos verificaram 'intestino esverdeado' do cadáver. Estudam 3 possibilidades - decomposição, grave infecção ou digestão rápida demais.

Hideaki Kawata, diretor do IML, confirmou que a morte por infecção pulmonar está fora de cogitação. O corpo foi entregue às 5h15 da manhã para a família. Os exames complementares deverão estar concluídos em 15 dias. 'É um leque aberto', resumiu Kawata.