Título: Líder de mobilização pela paz teme corrida às armas
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Metrópole, p. C3

Há dez anos lutando contra a violência numa das regiões mais conturbadas de São Paulo, a periferia da zona sul, o coordenador do Movimento Atitude pela Paz, Luiz Carlos dos Santos, está apreensivo. Ele teme que a campanha pelo desarmamento, que nasceu para diminuir a quantidade de armas em circulação, acabe tendo efeito contrário. O maior risco, em sua opinião, é que desvios nos debates sobre o referendo do próximo domingo acabem incentivando a população a buscar revólveres e pistolas. 'A grande tragédia será se a população achar que tem de começar a se armar, que gente que nunca pensou em ter um revólver passe também a idolatrar a arma', diz Santos, que atua principalmente nos bairros de Parelheiros, Grajaú e Capela do Socorro. 'A segurança não pode depender do cidadão ter uma arma na cintura para se defender.' Santos admite que proibir o comércio de armas não vai desarmar os bandidos. 'A intenção é desarmar o pai de família para que não se torne um assassino, porque as pessoas de bem também são impulsivas e muitas vidas ainda são perdidas em brigas de trânsito. Em um assalto, que poderia não ter mortes, é óbvio que há mais chances de isso ocorrer com a vítima armada.' Santos acredita que a classe média não dá a importância devida ao desarmamento pela ilusão de autodefesa e por não viver perto dos bandidos, mas alerta que a situação na periferia é grave, uma vez que vítimas e agressores muitas vezes vivem próximos. 'Para continuar a viver, aqui a ordem é não reagir. Porque nunca há um só envolvido no crime. Tem sempre dois, três, quatro, uma gangue. Se reagir, no dia seguinte os outros voltam.' Outra agravante, para Santos, é que, pela ausência do Estado, a referência do jovem na periferia é a arma. O traficante armado virou o grande líder e o prazer da criança é pegar arma na mão. Para resolver isso, além de se envolver e cobrar segurança do Estado, é preciso melhorar o ensino e o acesso ao primeiro emprego. 'Só assim vamos começar a transformar a cultura de violência numa cultura de paz.'