Título: O Brasil fica mais perto do espaço
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Vida&, p. A24

Na 3.ª-feira, o governo e a Rússia assinam acordo para que Marcos Pontes viaje para a ISS, 8 anos após iniciar seu treinamento

Na próxima terça, será assinado em Moscou um acordo entre os governos do Brasil e da Rússia para que o major Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro e por enquanto único, cumpra sua missão e viaje para o espaço oito anos depois do início de seu treinamento. É previsto que o Brasil pague entre US$ 12 milhões e US$ 15 milhões para a Roskosmos, agência espacial russa ¿ menos do que é cobrado dos turistas, cerca de US$ 20 milhões. O valor, no entanto, não é confirmado pela Agência Espacial Brasileira a pedido da contraparente russa.

O lançamento do foguete Soyuz ocorre no dia 22 de março. Detalhes do contrato ainda serão definidos amanhã, véspera da assinatura, pelos presidentes das agências espaciais do Brasil, Sergio Gaudenzi, e da Rússia, Anatoli Perminov.

Pontes participará de uma missão de dez dias de troca da tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS): ele vai com um astronauta americano e um cosmonauta russo, que permanecerão no lugar do comandante William McArthur e do engenheiro de vôo Valery Tokarev. Os nomes da dupla ainda não foram divulgados.

Ele será o primeiro astronauta estrangeiro a entrar na ISS em 2006. Pontes pretende carregar uma bandeira do Brasil e um chapéu de Santos Dumont para marcar o centenário do vôo do 14-Bis em Paris.

No entanto, a bagagem mais importante que ele levará para o espaço são experimentos de microgravidade brasileiros. A seleção de quantos e quais depende ainda de uma resposta da Rússia sobre as facilidades que encontrará na estação.

PREPARAÇÃO

O major chegou na quinta-feira a Moscou e, na sexta, fez testes médicos na Cidade das Estrelas, centro de treinamento da Roskosmos.

A novela de Pontes começou em 1998, quando foi selecionado para a missão e partiu para o Centro Espacial Johnson, da Nasa, a agência americana. Sua ida ao espaço fazia parte da participação do Brasil na construção da ISS, ao lado de outras 15 nações.

O País deveria investir US$ 120 milhões na construção de seis equipamentos. Pouco depois da assinatura, o governo percebeu que gastaria US$ 20 milhões a mais do que o combinado e pediu renegociação. O valor caiu para US$ 86 milhões e apenas um equipamento, cujo protótipo está sendo desenvolvido pelo Senai-SP.

Outro fator contribuiu para a demora do envio de Pontes: o acidente do ônibus espacial Columbia, com sete astronautas a bordo, que forçou a Nasa a manter os aparelhos no solo para rever o sistema de segurança. A medida atrasou os vôos previstos e reduziu o número de astronautas enviados à ISS, trabalho a cargo atualmente da Rússia.

O treinamento que Pontes recebeu na Nasa deve ser aproveitado na Roskosmos, mas ele precisa correr contra o tempo para se adaptar a sistemas diferentes e aprender russo ¿ pelo menos o básico para ler os comandos gravados na Soyuz.