Título: Maioria vota no referendo iraquiano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Internacional, p. A16

Comparecimento às urnas chega a 65% e forte esquema de segurança garante uma votação tranqüila na maior parte do país

BAGDÁ - Depois de uma semana de sangrentos atentados de grupos rebeldes, a calma predominou ontem no Iraque, facilitando a ida de milhões de pessoas às urnas para decidir se apóiam a nova Constituição. No fechamento das seções eleitorais, às 17 horas, as autoridades estimaram o comparecimento em cerca de 65% dos 15,5 milhões de eleitores. É um índice considerado elevado, já que o voto não é obrigatório no país e o medo de atentados manteve muitos eleitores em casa. Os iraquianos tinham de responder sim ou não à pergunta sobre se aprovavam o esboço da Constituição proposto pela Assembléia Nacional (Parlamento) provisória. Se o texto for endossado, haverá eleições até dezembro para a escolha de um Parlamento com plenos poderes, que formará o novo governo. A previsão é de que o sim vença, porque a Carta é apoiada pelos curdos e a grande maioria dos xiitas. Deve levar alguns dias ainda para o anúncio do resultado.

Fortes medidas de segurança garantiram a votação tranqüila. Os insurgentes só atacaram com tiros e bombas 5 das 1.200 seções eleitorais, ferindo sete pessoas. Três soldados iraquianos foram mortos em ataques em Bagdá. Foi um contraste marcante em relação às eleições parlamentares de janeiro, quando os rebeldes desfecharam mais de cem ataques, matando 40 pessoas. Estava proibida a circulação de veículos entre províncias e aproximação de carros dos centros de votação, que foram protegidos por blocos de concreto e soldados americanos e iraquianos.

Ao contrário de janeiro, quando a grande maioria dos sunitas boicotou a eleição, desta vez houve razoável comparecimento em suas regiões, mesmo em Faluja, bastião dos rebeldes. O boicote em janeiro deixou os sunitas (cerca de 20% da população) com pequena representação parlamentar. Desta vez, eles resolveram ir às urnas para votar `não¿. A chance de rejeição, contudo, é pequena. Para ser aprovado o texto precisa do apoio de mais de 50% dos votantes e não pode ser rejeitado por dois terços dos que votarem em pelo menos três províncias.

Com exceção do Partido Islâmico Iraquiano (PII), um dos maiores dos sunitas, os outros grupos políticos e entidades dessa comunidade recomendaram o `não¿ à Carta ou o boicote. Os membros sunitas no comitê de redação da Constituição não chegaram a um acordo com a coalizão majoritária no Parlamento, formada por xiitas e curdos (ler ao lado), aos quais acusam de sectarismo. Mas o PII aderiu ao sim na quarta-feira, depois de um acordo com a coalizão majoritária pelo qual foi inserida no texto uma cláusula que prevê a criação de um comitê para estudar mudanças na Carta.

Em seu programa semanal de rádio, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse que ao votar no referendo, os iraquianos estavam dando um duro golpe nos terroristas.