Título: Doleiro usou dinheiro de Maluf em tour pela Europa
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A15

Documentos revelam que Birigüi e família sacaram da conta Chanani para cobrir gastos com hotéis, lojas de grife e passeios

INVESTIGAÇÃO - A conta Chanani, atribuída a Paulo Maluf, bancou despesas elevadas do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, e sua família na Europa. Documentos bancários coletados pela Promotoria Distrital de Manhattan revelam que Birigüi, sua ex-mulher, Vera Alves, e as filhas, Ana Carolina e Ana Helena, lançaram mão de valores depositados na conta do Safra National Bank de Nova York para cobrir gastos com hotéis de luxo, lojas de grife e passeios internacionais. Maior acusador do ex-prefeito ¿ prisioneiro federal desde 10 de setembro ¿, Birigüi abriu a Chanani em 1997. O nome da conta é a junção dos apelidos das filhas, Cha e Nani. Por essa conta passaram US$ 161 milhões. "A conta era minha, mas o dinheiro era do Maluf", declarou o doleiro à Justiça Federal.

Os extratos que os promotores americanos entregaram ao Brasil indicam que Birigüi fez uso, sem parcimônia, do dinheiro que ele sempre afirmou ser do ex-prefeito. Não se sabe se Birigüi comunicou a Maluf tais retiradas da conta que ele operava. O doleiro não retorna ligações para falar sobre o episódio que levou Maluf e seu filho mais velho, Flávio, para a Custódia da Polícia Federal.

FATURAS

A maior parte dos gastos ocorreu entre 2000 e 2001, mostram as faturas de cartões de crédito da família Alves, que foi às compras na Itália, França e Inglaterra. Nessa época, a Chanani havia trocado de nome, virou a conta Ugly River. O doleiro teve de fazer a alteração porque a inspetoria do Safra NY havia identificado "movimentação excessiva" na Chanani.

Uma fatura do cartão de Birigüi ¿ no valor de US$ 9.276,45 ¿ mostra gastos com hospedagem no Hotel Milano (Milão), Hotel Plaza Athenée (Paris) e no Knights Bridge (Londres). Os dólares de Maluf serviram para refeições dos Alves em restaurantes sofisticados da capital inglesa ¿ por exemplo, foram gastos US$ 668,65 no Harry¿s Bar, US$ 406,16 no Toto e US$ 256,28 no La Famiglia.

Em magazines tradicionais o doleiro e os seus deixaram US$ 16.493,92. Na Prada, de Paris, foram gastos US$ 1.520,94. Na Harrods, de Londres, desembolsaram US$ 3.017,71.

Outra fatura, no montante de US$ 10.432,23, aponta gastos em Roma, como no Hotel Hassler. No Vaticano, os souvenirs custaram US$ 287.

ESQUI

O depoimento do administrador de empresas Laércio Brandão Teixeira Filho, gerente de contas do Safra de Nova York entre agosto de 1997 e agosto de 2002, também revela evidências do estilo de vida dos Alves. Ele disse ter conhecido Birigüi em uma estação de esqui nos EUA. "Os titulares da Chanani eram o Vivaldo e a Vera Lúcia Alves", disse Teixeira à Justiça, como testemunha de acusação arrolada pelo Ministério Público Federal. "Nos EUA existia naquela época a possibilidade de usar codinome para resguardar a confidencialidade da conta dentro da organização."

Ele disse se lembrar que Vera "tinha inclusive um cartão de crédito para gastos pessoais". "O padrão de vida de Vivaldo era bastante alto, as filhas estudavam na Europa, viajavam com freqüência", disse Teixeira. "Pelo que me lembro, as beneficiárias da Chanani, em caso de morte do Vivaldo ou da mulher, eram as filhas. Não existia documento dizendo que o dinheiro iria para terceiros."

Durante 1998, contou o ex-gerente do Safra, houve muitas movimentações de entrada e saída na Chanani. "O Vivaldo me disse que as movimentações se deviam a clientes dele que faziam as operações de arbitragem no mercado financeiro, mas não mencionou nomes. Ele nunca comentou que a movimentação da Chanani era feita pelo Maluf ou por Flávio. Sempre comentava da admiração política que tinha por Paulo Maluf. Quando fui gerente do Safra os Maluf nunca realizaram movimentação em contas sob minha responsabilidade. Nunca fui constrangido por eles."

Segundo Teixeira, no final de 1998 o Departamento de Inspetoria do Safra "chamou a atenção para a movimentação exagerada" na conta Chanani. "Quando transmiti essa informação para Vivaldo e a mulher, eles acharam melhor encerrar a conta", ressaltou o ex-gerente. "Foi no início de 1999. O saldo da Chanani foi transferido para a Ugly River, aberta também em nome de Vivaldo e da mulher. Na Ugly River eles fizeram investimentos em certificados de depósito."

A testemunha contou da separação do casal e que a Ugly foi sucedida pela Madison Hill, em nome de uma offshore. "Os sócios beneficiários da Madison eram Vivaldo e Vera."