Título: Da cela na PF, Flávio Maluf comanda a Eucatex
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A14

Empresa tem diretoria profissionalizada, mas advogados levam e trazem relatórios ao filho do ex-prefeito

INVESTIGAÇÃO - O controlador Paulo Maluf está preso. O presidente Flávio Maluf também. Mas a Eucatex está operando normalmente, procurando, na Justiça, o seu enquadramento na nova Lei de Falências, pedindo a extinção da concordata preventiva e a migração para o regime de recuperação judicial. Detalhe: Flávio Maluf despacha da prisão, por meio do advogado Genildo Brito, da empresa, que chega a ir mais de uma vez por semana para levar relatórios e buscar as anotações do patrão. O advogado cível de Flávio e da Eucatex , Ricardo Tosto, disse que os relatórios são uma forma de manter Flávio Maluf informado do que se passa na empresa. Mas, Tosto ressalta, "a diretoria é extremamente profissional e o vice-presidente José Antônio Carvalho tem comandado a empresa com a determinação de recuperá-la."

A sala de Flávio Maluf na sede da Eucatex, onde dá até para jogar uma minipartida de tênis, tem mais de seis vezes o tamanho da cela que ele ocupa hoje. E está vazia, à espera dele. O vice-presidente da Eucatex tem despachado na sua própria sala e usado a de reuniões para manter a diretoria unida e esta motivar os gerentes.

Na última sexta-feira, Tosto comemorava uma informação já repassada a Maluf e a Flávio: a Eucatex Química e Mineral Ltda. efetuou todos os depósitos referentes às dívidas listadas na concordata, que foi concluída. Agora, os credores vão preencher guias para receber o valor depositado. "Um problema a menos", disse Tosto.

A Eucatex S/A Indústria e Comércio, a empresa da família Maluf, está em concordata desde abril de 2003, o que levou suas ações a perderem liquidez ¿ poucos vendem por ausência de compradores ¿ na Bovespa. Mesmo assim, a empresa continua a empregar cerca de 3 mil funcionários ¿ a metade deles, entre diretos e indiretos, na pequena cidade de Salto, no interior do Estado de São Paulo ¿ e a vender seus produtos, como MDF (madeira aglomerada), pisos laminados e divisórias. No ano passado, a Eucatex chegou a registrar um faturamento líquido de R$ 538 milhões, que atingiu a R$ 284 milhões, também líquidos, no primeiro semestre deste ano.

Tosto, assim como a família Maluf, aguarda, sem esconder a expectativa, que a juíza da 3.ª Vara Cível do Fórum de Salto, onde está a principal fábrica da empresa, possa concordar com a extinção da concordata preventiva e a migração para o regime de recuperação judicial. "Esta seria uma grande vitória", diz ele. Mas a família não tem dado sorte nas disputas judiciais nos últimos dias.

Mais: a nova Lei de Falências exige a quitação das dívidas de uma concordata no prazo de dois anos para a empresa entrar para o regime judicial, que dá mais liberdade à administração de uma empresa e facilita o crédito. Mas a Eucatex não conseguiu cumprir esse prazo. Só que alega ter cumprido todas as outras determinações legais previstas na concordata, e diz que a migração para o regime de recuperação judicial abre oportunidade para equacionar o restante da dívida não incluída no programa de pagamentos da concordata.

Tosto diz que isso beneficiaria diretamente os pequenos credores, que estão fora da concordata. Segundo ele, a dívida da empresa já foi reduzida. No balanço que enviou ao mercado financeiro, o débito em 30 de junho era de R$ 306 milhões. É o mesmo valor que deverá migrar da concordata para a recuperação judicial, uma forma que Tosto considera mais vantajosa para os credores. E principalmente para Paulo e Flávio Maluf. Desde sua fundação em 1951, a partir da Serraria Americana, que o imigrante Salim Farah Maluf ergueu para sustentar a família, a Eucatex não enfrenta uma crise tão difícil.