Título: Ninguém assume ser o doleiro de Valério
Autor: Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Em dois depoimentos na CPI dos Correios, realizados na semana passada, os dois homens acusados de serem doleiros do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, Haroldo Bicalho e Jader Kalid Antônio, negaram qualquer conexão com ele. Kalid apenas admitiu ter sido "consultado" por Ramón Santiago, sócio do empresário, sobre como enviar US$ 2 milhões para o exterior. "Eu disse que não mandasse isso tudo, mandasse só US$ 500 mil através de um banco, porque os doleiros estão sendo investigados e era ruim se meter com doleiro", contou. Mas, segundo Kalid, a conversa foi só uma consulta e não teria havido negócio entre os dois.

"Agora eu estou vendo aqui que (o dinheiro para o exterior) era para essa conta Dusseldorf, do Duda Mendonça", disse. Na CPI, Kalid afirmou nunca ter ouvido falar de Duda até o dia em que o publicitário foi preso em uma rinha de galos. Em seu depoimento à Polícia Federal, Marcos Valério disse que Kalid foi o doleiro indicado por Duda Mendonça para fazer o seu pagamento no exterior. O nome de Kalid aparece nos fax da transferência feita para a conta de Duda. Mesmo assim, o doleiro ¿ que diz ser apenas consultor financeiro e nunca ter trabalhado com dólar ¿ diz que seu nome só estava lá porque a secretária de Valério, Geiza Dias, o consultou para saber se a documentação estava correta, pois "uma mulher não parava de ligar para ela e xingá-la porque o dinheiro não entrava".

Bicalho, por sua vez, admitiu somente ser amigo de Cristiano Paz, sócio de Valério. Ele disse que sua prisão pela Operação Farol da Colina, feita pela Polícia Federal contra as remessas irregulares de recursos para o exterior, foi "um equívoco". Bicalho afirma que tem apenas uma empresa para comprar couros no Uruguai, que abastecem a fábrica de bolsas que possui em Belo Horizonte e, "por algum motivo, os papéis da minha empresa foram parar em Nova York".

HISTÓRIAS

O depoimento de Bicalho durou 44 minutos. O de Kalid, cerca de uma hora e meia. Em meio às perguntas, Kalid contou histórias e fez rir o plenário, inclusive o relator da Sub-relatoria de Movimentação Financeira, Gustavo Fruet (PMDB-PR).

Chegou a dar conselhos ao relator ¿ como o de chamar o gerente da agência do banco de Duda Mendonça ¿ e a sugerir anistia a quem tem recursos no exterior. Sempre dizendo "vai por mim, deputado, vai por mim". Os depoimentos foram considerados inúteis por Fruet. "Nada se aproveita", afirmou.