Título: CPI investiga 399 ligações entre agência de Valério e doleiros
Autor: Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A6

Dois deles, Haroldo Bicalho e Paulo Roberto Grapiúna, chegaram a ser presos na Operação Farol da Colina no ano passado

BRASÍLIA - Registros telefônicos obtidos pelo Estado revelam pelo menos 399 telefonemas trocados entre doleiros e números do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, do sócio dele, Cristiano Paz, e da agência dos dois, a SMPB, nos últimos cinco anos. Haroldo Bicalho e Paulo Roberto Grapiúna, dois dos doleiros que trocavam ligações, chegaram a ser presos em agosto do ano passado pela Polícia Federal na Operação Farol da Colina, que desbaratou um esquema de remessas ilegais de recursos para o exterior. Os dados estão em poder da CPI dos Correios, que investiga o braço do esquema do mensalão com operações de lavagem de dinheiro e envio de dinheiro para paraísos fiscais. Segundo técnicos da comissão, as ligações reforçam as evidências de operações entre o valerioduto e doleiros conhecidos do mercado.

Haroldo Bicalho e Jader Kalid Antônio ¿ outro dos doleiros que trocavam ligações com a SMPB e Cristiano Paz ¿ são considerados peças-chave na investigação sobre o pagamento de caixa 2 em paraísos fiscais. O Ministério Público e a Polícia Federal já receberam informações de que contas controladas por Kalid abasteceram contas de empresas do publicitário Duda Mendonça no exterior.

O doleiro com maior número de telefonemas registrados é Haroldo Bicalho. A CPI descobriu que ele trocou (fez ou recebeu) pelo menos 248 ligações com Cristiano Paz, Marcos Valério e a SMPB. Paz é o campeão de ligações para o doleiro. Desde 2000, foram pelo menos 156 telefonemas, que somaram quatro horas e meia de conversas. Sempre do celular do publicitário para o celular de Bicalho. Só em 2002, foram pelo menos 40 ligações.

Apesar de Bicalho jurar que não o conhece, Valério ligou pelo menos quatro vezes em 2002 para o doleiro. De números da SMPB, Bicalho recebeu pelo menos 85 ligações. Em 2001, foram 44 minutos de conversas.

Embora com menos freqüência, as ligações entre o doleiro e a SMPB continuaram após 2002. Em 2003, já no governo Lula, Bicalho ligou pelo menos quatro vezes de seu celular para outro celular da agência. No mesmo período, recebeu pelo menos seis ligações da sede da SMPB. Todos esses telefonemas foram dados dias depois da posse de Lula. As ligações prosseguiram até este ano. Entre fevereiro e março, Bicalho ligou pelo menos quatro vezes para a sede da agência, em Belo Horizonte.

Jader Kalid Antônio também não foi econômico nesses contatos. Os registros da CPI mostram que ele trocou pelo menos 92 ligações com a SMPB e Cristiano Paz. Entre 2000 e 2003, Kalid recebeu pelo menos 73 telefonemas de Paz, com 110 minutos de conversas.

Em 10 de janeiro de 2003, logo depois da posse de Lula, Kalid também recebeu um telefonema da SMPB. No mesmo dia, o mesmo número da agência ligou pelo menos quatro vezes para Bicalho. Há outro período em 2003 que também registra uma coincidência de datas entre ligações da SMPB para Bicalho e para Kalid. No dia 11 de julho, um celular registrado em nome da SMPB telefonou para Kalid. Três dias depois, Bicalho recebeu pelo menos três ligações do mesmo celular que ligara para Kalid.

Depois que rarearam os telefonemas para Kalid e Bicalho, as ligações passaram a se concentrar em Paulo Roberto Grapiúna Lima, outro dos doleiros presos na Farol da Colina. Num espaço de dois anos, ele trocou pelo menos 59 ligações com números da SMPB e de Paz. Somente em 2003, já com o PT no Planalto, ele recebeu pelo menos 39 ligações do sócio de Valério, sempre de celular para celular. As conversas somaram uma hora. Naquele ano, os telefonemas concentraram-se entre abril e maio. Dois anos antes, em 2001, ele já havia trocado pelo menos 20 telefonemas com Paz e números fixos SMPB. Naquele ano, as conversas ocorreram entre outubro e novembro.