Título: Governo quer virar CPI dos Correios contra tucanos
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A5

Idéia é explorar relação de Azeredo com Valério para minar discurso do PSDB de não-envolvimento com caixa 2

BRASÍLIA - Chegou a vez dos tucanos na CPI dos Correios. Após quatro meses de apurações sobre o esquema de caixa 2 do PT, a comissão decidiu ampliar seu foco e investigará a relação do senador Eduardo Azeredo (MG), presidente do PSDB, com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Com isso, o governo quer envolver os tucanos no esquema do valerioduto, tirando-lhes, na eleição de 2006, o discurso de que o PSDB foi o único grande partido a sair incólume sobre o uso do caixa 2. Os tucanos reagiram. "É para confundir as investigações. Mas agora não vamos nos furtar de investigar campanhas alheias. O PT acha que está recuperando o fôlego e resolveu desviar o foco da CPI", diz o deputado Eduardo Paes (RJ), futuro secretário-geral do PSDB.

"É uma tática infantil. O governo acha que a situação melhorou um pouco e quer pôr a gente junto. Mas não conseguirá até porque tem muito petista histórico que teve campanha financiada por Valério", afirma o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Estamos prontos para ir para a guerra."

Na campanha de Azeredo à reeleição ao governo de Minas, em 1998, Valério emprestou R$ 9 milhões à sua coligação. Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha, intermediou a operação. Mourão vai depor quarta-feira na sub-relatoria de Contratos da CPI dos Correios. "Nossa intenção é comprovar que a origem do valerioduto é tucana", conta o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). "Finalmente a CPI se curvou à exigência da sociedade de que a história seja contada de uma maneira completa. Vendeu-se que tudo começou em 2002 com o PT, mas a história não é assim", diz o deputado Maurício Rands (PT-PE).

Para a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder informal do governo na CPI, o depoimento de Mourão é importante pois ele fez parte do primeiro modelo de empréstimo de Valério a um partido. Argumenta ainda que o ex-tesoureiro de Azeredo recebeu três empréstimos de empresas de Valério entre 2000 e 2002. "Já ficou claro que eles vêm porque têm ligação", diz Ideli, ao citar conexões entre Cristiano Paz, sócio de Valério, e o comitê de campanha do prefeito de São Paulo, José Serra.

Um acordo informal feito entre o governo e o PSDB no Senado poupou Azeredo, que não foi incluído no relatório parcial da CPI dos Correios e do Mensalão com o nome dos 19 parlamentares acusados de envolvimento com Valério. Em troca, a oposição concordou em não investigar campanhas eleitorais anteriores a 2004. Para livrar Azeredo, o relator da CPI dos Correios, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), alegou que seu caso se referia a uma eleição estadual e anterior ao esquema.

Esta semana, porém, Serraglio confidenciou a amigos que foi pressionado pelo governo a chamar Mourão para depor na CPI dos Correios. A avaliação tanto dos governistas quanto dos oposicionistas é que Azeredo não deve ser punido por seu envolvimento com Valério na campanha de 1998.

CPI DO MENSALÃO

A estratégia da base aliada para trazer o PSDB ao centro das investigações por corrupção não se restringe à CPI dos Correios. O governo decidiu acuar o PSDB também na CPI do Mensalão, com a convocação de Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ricardo Sérgio é suspeito de ter ligações com Valério uma vez que o prédio onde funciona a agência de publicidade SMPB seria de uma de suas empresas.

É acusado ainda de participar de suposto esquema de liberação de verbas para aprovação da emenda à reeleição em 1997, no governo FHC. Ricardo Sérgio também teve seu nome envolvido em supostas irregularidades na privatização de empresas públicas no governo passado.