Título: Tema polêmico vai entrar na agenda da visita de Bush
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A4

WASHINGTON - O anúncio de uma possível negociação de cooperação nuclear entre Brasil, Argentina e Venezuela ocorre menos de um mês antes da visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil, prevista para 5 de novembro. E introduz um tema potencialmente polêmico na agenda. Os EUA não se manifestarão sobre o acordo antes de conhecer os detalhes, indicaram ontem fontes oficiais. Declaração do porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli, no início da semana, sobre o eventual fornecimento de um reator nuclear pela Argentina à Venezuela indica, no entanto, que Washington recordará aos três países as obrigações como signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. "Esperamos que qualquer atividade relacionada a programa nuclear civil seja plenamente consistente com as obrigações no TNP e respeite os acordos de salvaguardas."

A cooperação nuclear entre Brasil e Argentina, fundada na renúncia voluntária ao desenvolvimento e construção de armas atômicas, tem sido vista de forma favorável por sucessivas administrações americanas. O governo Bush confirmou essa posição ano passado, depois que especialistas em não-proliferação tentaram transformar o programa brasileiro de enriquecimento de urânio em cavalo de batalha na campanha de Washington para bloquear o programa nuclear do Irã. "O Brasil é parte da solução e não do problema", disse o então secretário de Estado, Colin Powell. A declaração foi reiterada por sua sucessora, Condoleezza Rice.

A curto prazo, pesará no exame que Washington fará da iniciativa de cooperação entre Brasil, Argentina e Venezuela a preocupação de negar munição a Chávez na 4.ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata, mês que vem. Antes, Bush passará menos de 20 horas em Brasília.