Título: Em dezembro, Venezuela deve se tornar o quinto membro do Mercosul
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A4

SALAMANCA - A Venezuela deverá tornar-se, em dezembro, o quinto membro do Mercosul, bloco hoje formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A informação foi confirmada ontem pelo chanceler do Uruguai, Reinaldo Gargano. O Uruguai exerce atualmente a presidência do Mercosul. Foi o segundo passo de aproximação com o país governado há seis anos por Hugo Chávez, na 15.ª Cúpula Ibero-americana. O primeiro foi o anúncio de que Brasil, Argentina e Venezuela fecharão um acordo de cooperação na área nuclear. Com a inclusão da Venezuela, o jogo de forças dentro do Mercosul provavelmente mudará, segundo observadores do campo diplomático. A tendência é o Brasil perder a posição central que hoje exerce no bloco para o país de Chávez, favorecido atualmente pela abundância de recursos obtidos pelas vendas de petróleo a altos preços.

Outra possível conseqüência é a mudança no jogo das negociações comerciais do Mercosul com a União Européia e os Estados Unidos. O bloco busca acordo na forma "4+1" com os EUA, que agora seria "5+1". E o quinto membro é dirigido por Chávez, que já chamou o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de "idiota" e "diabo".

As investidas da Venezuela para entrar no Mercosul tornaram-se mais enfáticas desde o início do governo Lula, que se mostrou simpático e solidário com o regime imposto por Chávez. Tal regime foi apontado como excessivo em democracia pelo próprio presidente Lula no fim de setembro, em Brasília.

Ou seja, a rigor, não seria o Brasil o país que duvidaria da capacidade de Caracas de cumprir integralmente uma das exigências do Mercosul a todos os seus sócios plenos e associados: o de atender à cláusula democrática. Outra exigência para um membro pleno é adotar a Tarifa Externa Comum (TEC), que define as alíquotas de imposto de importação que todos os sócios devem aplicar sobre produtos vindos de fora do bloco.

Atualmente, nem entre os sócios a TEC é aplicada. Cada país tem uma lista de exceções à TEC, que é motivo de rusgas constantes. Nesse caso, a Venezuela estaria fazendo uma concessão, ao aceitar um arcabouço que, mesmo para os quatro sócios do Mercosul, é considerado ultrapassado.