Título: Brasil quer álcool em escala mundial
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. B7

Estratégia é ceder tecnologia a outros países e incentivar produção do combustível para garantir a oferta no mercado internacional

O Brasil intensificou o trabalho no mercado mundial para transformar o álcool combustível em um produto comercializado em larga escala com preço cotado em dólar. A estratégia é incentivar outros países, como Colômbia, Tailândia, Austrália e Índia, a produzirem o etanol em grande volume para aumentar a oferta do produto no mercado internacional. Só assim haverá segurança para atender a demanda mundial, afirma o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho. Segundo ele, nenhum país vai querer implementar um programa de uso de álcool combustível em sua frota tendo apenas o Brasil como fornecedor. Por isso, a entidade tem trabalhado intensamente para apresentar às demais nações a tecnologia brasileira de produção de etanol - a mais competitiva do mundo.

Medida que até pouco tempo enfrentava forte resistência de alguns usineiros, afirma o coordenador-geral de acompanhamento e avaliação do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, José Nilton.

Mas essa mentalidade mudou, especialmente pelas perspectivas de consumo do combustível nos próximos anos. A previsão é que só no Brasil a demanda por etanol atinja 16,9 bilhões de litros em 2010. Nos Estados Unidos, esse número ficaria entre 18 e 20 bilhões de litros, segundo dados do livro A Energia da Cana-de-Açúcar, organizado pelo professor Isaías de Carvalho Macedo, reunindo 23 pesquisadores e acadêmicos brasileiros, que será lançado quarta-feira, em São Paulo.

A publicação traz ainda a projeção de consumo em países que ainda não têm tradição no uso do combustível limpo. No Japão, por exemplo, a perspectiva é que em 2010 a demanda fique entre 6 e 12 bilhões de litros; na União Européia, 9 e 14 milhões de litros; e no Leste Europeu, 1 e 2 bilhões de litros. 'Mas o Brasil não vai suprir essa demanda toda', afirma Macedo. ' Embora o potencial seja enorme, precisamos de mais países na fabricação do etanol.' Mesmo assim, o livro, editado em português e inglês, tem o objetivo de mostrar ao mundo a sustentabilidade (econômica, social e ambiental) da produção brasileira, seja do álcool ou do açúcar. A briga com a União Européia na Organização Mundial do Comércio (OMC) fez o País se confrontar com a opinião pública mundial, já que o bloco econômico passou a acusar o setor sucroalcooleiro do Brasil de práticas abusivas, como trabalho escravo e infantil nas lavouras. 'Queremos mostrar ao mundo que nosso setor não precisa de subsídios nem apoios permanentes e gera emprego e renda para a população', afirma Carvalho.

A publicação mostra o potencial brasileiro de produção de cana-de-açúcar, os benefícios para o cidadão e a história dessa cultura agrícola. Em 1955, a área plantada era de apenas 1 milhão de hectares e passou para 5,3 milhões na safra 2003/2004. Desse total, 79% estão na Região Centro-Sul. Até 2003, o setor empregava 448.883 pessoas, em postos permanentes e temporários. 'É preciso que o mundo saiba que fazemos o melhor produto da melhor forma possível', destaca Carvalho.