Título: Medidor deve ganhar nova função: criar ranking fabril
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

A indústria de cerveja brasileira quer dar um caráter menos fiscal ao medidor de vazão. Quer dar utilidade gerencial ao que hoje é mero delator. Embora desenvolvidos para fiscalizar, o setor cervejeiro acha que os medidores podem dar ao País e à indústria um indicador econômico de relevância.

Para o País, pode se converter em indicador de desempenho econômico; para as indústrias, pode ofertar uma visão quase exata sobre a participação de mercado de cada empresa. 'Acho que esta informação seria um instrumento importantíssimo para o gerenciamento das empresas. Contribuiria nas estratégias de gestão', diz Marcos Mesquita, superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Poderia até calibrar estratégias comerciais. A entidade já solicitou à Receita Federal a disponibilidade da informação para a indústria, mas há um problema: o sigilo fiscal. As fabricantes de cerveja contentam-se com volume global de produção, o que já será possível em julho próximo, quando completa um ano da última homologação de medidor.

Como cada companhia sabe sobre os próprios volumes, medir o mercado seria apenas um exercício de inferência.

PRODUÇÃO E PONTO DE VENDA

Vale lembrar que o medidor mede a produção de cerveja. Há quem diga que os levantamentos feitos em pontos de venda é outro dado. É verdade, mas é certo também que toda a cerveja produzida não demora muito para chegar ao ponto de venda.

Em mercado tão competitivo, este é um setor de giro rápido, pouco estoque.

O principal levantamento para o mercado de cerveja é feito hoje pela AC Nielsen, responsável pela apuração do mercado a partir dos pontos de venda. É um balizador do mercado, bem conceituado, mas que tem limites na apuração de todos os canais de venda. Tem mais abrangência em auto-atendimentos do que em bares e restaurantes, onde o consumo é maior, 65% do total.

Em 2004, a estimativa de produção da indústria foi de 8,5 bilhões de litros, e a AC Nielsen mediu 5,6 bilhões, cerca de 65% da produção. 'Os 35% restantes não podem ser extrapolados', lembra Mesquita.

Para Ricardo Melo, gerente de Tributos da AmBev América Latina, os dados que surgirão dos medidores terão relevância para as indústrias. 'Se pudéssemos substituir a pesquisa que compramos, seria ótimo.

São extremamente caras', diz.

Liberados os dados de produção, o setor deve ficar mesmo com as duas informações. Juntas, darão ao setor precisão sobre onde podem melhorar o desempenho comercial.

Luiz Carlos Nascimento, gerente técnico da Schincariol, confessa que a organização está ansiosa com a possibilidade de ter esses dados. Acha que quando revelado o volume de produção, verá a real participação de mercado, que julga maior. Segundo medição da AC Nielsen de agosto, a Schincariol tem 13,1% do mercado nacional de cerveja, a AmBev, 68% e a Molson (das marcas Kaiser e Bavaria) detém 8,4%.

Mas a última palavra sobre esta nova função do medidor será da Receita Federal. De acordo com Paulo Ricardo de Souza Cardoso, secretário-adjunto da Receita, o sigilo fiscal deve vetar a divulgação de dados de produção por fabricantes, mas talvez não informações globais de produção. Há também informações sobre o recolhimento de impostos. Na medida em que o recolhimento de impostos corresponde ao produzido, o número pode servir de indicador de produção.