Título: Fisco ainda avalia montanha de dados da Operação Cevada
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

Schincariol se queixa de que, quatro meses depois, nenhuma denúncia foi apresentada; Receita alega cuidado na investigação

A Receita Federal ainda analisa os documentos recolhidos no dia 15 de junho na sede da Cervejaria Schincariol, em Itu, recolhidos durante a operação Cevada, maior investida contra a indústria de bebidas no País. Paulo Ricardo de Souza Cardoso, secretário-adjunto da Receita, explicou que, embora não haja nenhuma operação visível à mídia, o Fisco prossegue o trabalho de investigação de toda a documentação recolhida na operação. As ações empreendidas por Receita Federal e Polícia Federal, que resultou na prisão de sete diretores e donos da Schincariol, foram criticadas pela seu caráter cinematográfico.

Mas, depois da operação, veio a necessidade de analisar o material, o que é feito desde então. A operação completou quatro meses ontem. 'De tudo, a operação de busca e apreensão é a parte mais fácil. O mais complicado é conferir as informações. O processo na área tributária é delicado. Em outros processos, a prova testemunhal é suficiente.

Neste caso não. Ao contrário de outros processos, este é exigente em provas', pondera o comandante da fiscalização.

A Schincariol, acusada inicialmente de montar uma operação de sonegação de R$ 1 bilhão, ainda aguarda a denúncia formal para responder.'Até agora, quatro meses depois da operação, não há uma denúncia', diz Luiz Carlos Nascimento, gerente-técnico da empresa. Cardoso, da Receita, não detalhou a situação do processo contra a Schincariol, mas disse que as informações coletadas com os medidores de vazão, sistema considerado um divisor de águas no combate à sonegação, confirmam suspeitas de evasão fiscal relacionadas aos envolvidos na operação.

Entretanto, sem informações oficiais sobre o valor devido à Receita Federal, a Schincariol ainda não fez até agora qualquer provisionamento em balanço para cobrir eventuais execuções fiscais. A AmBev, por exemplo, tem uma situação diferente.

A empresa provisionou no último balanço R$ 1,4 bilhão para cobrir eventuais condenações de dívidas fiscais. Segundo Ricardo Melo, gerente de Tributos da AmBev, o valor provisionado refere-se a pendências judiciais nas quais a companhia observa risco de perda. Não são as únicas pendências. Aquelas que superam a cifra de R$ 1,4 bilhão são classificadas de baixo risco de perda, avaliação amparada em pareceres jurídicos.