Título: Governo vê recuperação e começa a trabalhar pela reeleição de Lula
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - Quase quatro meses depois do início do escândalo do mensalão, o governo começa a dar sinais de reação política e já começa a se estruturar para tentar viabilizar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O próprio Lula já interveio diretamente nas bem-sucedidas negociações para eleger Aldo Rebelo (PC do B-SP) presidente da Câmara e passou a ter ascendência direta sobre o Congresso, onde as duas Casas agora são presididas por aliados: Aldo, na Câmara, e Renan Calheiros (PMDB-AL), no Senado. Mais: Lula decidiu se descolar, pelo menos momentaneamente, do PT e pôr em prática o desejado governo de coalizão. No Senado, o comando está nas mãos de um aliado do PMDB; na Câmara, o controle é de um parceiro do PC do B. Para ajudar, dentro do Congresso cresceu bastante o papel de articulador desempenhado pelo deputado Eduardo Campos (PSB-PE), ex-ministro de Ciência e Tecnologia. E o ministro de Assuntos Institucionais, Jaques Wagner, que ganhou enorme espaço nas negociações com o Congresso, é de uma ala light do PT, circulando com desenvoltura até mesmo entre integrantes de partidos de oposição, como PL.

¿O grande feito da eleição do deputado Aldo Rebelo foi reaglutinar a base do governo¿, afirma o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). ¿Temos de receber essa vitória com humildade e ter responsabilidade para trabalhar com diálogo dentro da base.¿

CANDIDATO

No governo não há mais dúvidas de que Lula será candidato à reeleição. Mesmo com a perda de popularidade na opinião pública, o presidente estabilizou seu desempenho e não caiu mais na última pesquisa de avaliação de imagem do Ibope. Em preparação para as críticas pesadas que certamente sofrerá durante a campanha eleitoral, Lula e o PT começam também a imaginar o que seria o discurso de resposta. O principal mote será realçar os resultados da economia, onde os bons indicadores serão usados à exaustão.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, deve anunciar amanhã, por exemplo, um novo aumento na meta das exportações, que não param de crescer. Até a quarta semana de setembro, a balança comercial brasileira já acumulava, no ano, um superávit de US$ 31,9 bilhões, resultado de exportações de US$ 84,4 bilhões e importações de US$ 52,5 bilhões.

Antes desse anúncio, a meta do ministério era conseguir exportações de US$ 112 bilhões este ano e, para 2006, de US$ 120 bilhões. Esta semana, o Banco Central, normalmente mais conservador, já previu um aumento de meta para US$ 114 bilhões e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) chegou a falar em US$ 117 bilhões.

O governo já tem um discurso de resposta pronto contra a oposição, em especial o PSDB. O presidente Lula e o PT continuarão admitindo publicamente os erros cometidos, mas lembrarão que o governo afastou todos os suspeitos e mandou investigar as irregularidades.

E farão carga sobre o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), que teria se beneficiado de um esquema de caixa 2 em 1998 idêntico ao usado pelo PT, com o mesmo empresário Marcos Valério repassando recursos para a campanha eleitoral, usando as mesmas agências de publicidade.

¿Eu não vi o PSDB falar nada até agora o esquema de caixa dois usado por seu presidente¿, reforça o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). ¿Eu quero acabar com o caixa 2 em todos partidos. Eu quero investigar todas as irregularidades que eventualmente os partidos tenham cometido¿, diz.

Fontana também é da linha dos petistas que acham que a nova imagem do PT deve passar pelo fim do uso de grandes esquemas de marketing nas campanhas eleitorais. ¿Sou contra essa história de grandes esquemas de campanha de mídia. De um lado, tinha o Duda Mendonça com R$ 25 milhões. Do outro, tinha o Nizan Guanaes, com outros R$ 25 milhões. Eu prefiro uma campanha que seja feita muito mais na base da palavra do que em grandes esquemas de publicidade¿, avalia.

OPOSIÇÃO

Diante dos sinais da recuperação do governo, a oposição admite que as coisas melhoraram para Lula. Mas deixa claro que vai falar do escândalo do mensalão exaustivamente em 2006.

¿Nunca subestimei a força do governo. Acho que eles continuam muito fortes para a eleição de 2006. Não tenho dúvida de que o presidente Lula não está morto eleitoralmente¿, diz o deputado Eduardo Paes (RJ), provável futuro secretário-geral do PSDB. ¿Mas nós vamos falar de todos esses escândalos que surgiram no governo dele.¿