Título: PSOL cresce e sonha em deixar de ser nanico já na estréia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2005, Nacional, p. A12

O rato ruge. Nascido a partir da expulsão do PT da senadora Heloísa Helena (AL) e dos deputados Babá (RJ) e Luciana Genro (RS), o Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, ganhou parlamentares, militantes e força com a crise petista. Sonha agora em deixar de ser mais uma legenda nanica no cenário político e ocupar o espaço à esquerda deixado vago pela guinada para o centro dos petistas e pelo escândalo do mensalão. Com uma bancada de dois senadores e sete deputados federais ¿ engordada nos últimos dias pela adesão dos ex-petistas Ivan Valente (SP), Orlando Fantazzini (SP), Chico Alencar (RJ, João Alfredo (CE) e Maninha (DF) ¿, o PSOL, pouco mais de um mês depois de obter registro definitivo, já se equivale em número de parlamentares ao tradicionalíssimo PCdoB. A debandada petista, estimam seus dirigentes, pode trazer ainda 5 mil militantes para o partido.

Animado por esse surpreendente crescimento, o PSOL começa a almejar vôos mais altos para 2006, capitalizando a frustração de setores da esquerda com o governo Lula e recuperando o velho estilo radical abandonado pelos petistas. Na disputa da presidência da Câmara entre Aldo Rebelo (PCdoB) e José Thomaz Nonô (PFL), a bancada do PSOL estreou com uma recomendação de voto nulo, numa repetição do comportamento adotado pelos petistas em 1984, no embate entre Tancredo Neves e Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.

¿Queremos ser um espaço de reaglutinação das forças de esquerda, que se desagregaram com a guinada bizarra do PT¿, diz o ex-deputado e ex-petista Milton Temer, integrante da executiva nacional do PSOL. ¿Em uma década, o PT percorreu a trajetória que a social-democracia européia levou um século e meio para fazer, mas sem conquistas sociais.¿

A expectativa no PSOL por um bom desempenho em 2006 é alimentada também pelo carisma barulhento da senadora Heloísa Helena. Na última pesquisa CNI/Ibope,o estilo rebelde e despojado da senadora seduziu 5% dos eleitores, colocando-a em um quarto lugar na corrida para a sucessão presidencial. Foi a única a crescer, subindo dois pontos em relação a junho.

O potencial eleitoral da senadora cresce à medida que aumentam escolaridade, renda e grau de urbanização dos eleitores. Ela alcança 13% na faixa de renda superior a dez salários mínimos, 12% no público universitário e 9% nas capitais ¿ desempenho, em parte, explicado pela exposição na CPI dos Correios. ¿É preciso esperar janeiro, quando ela estiver fora da mídia, para se ter avaliação realista sobre o seu potencial¿, diz Carlos Augusto Montenegro, diretor do Ibope.

Antônio Lavareda, consultor em pesquisas eleitorais, considera, porém, o crescimento da senadora ¿consistente¿. ¿Se ela fizer campanha com mínimo de organização, tem condições de avançar para os dois dígitos¿, diz. Os obstáculos para Heloísa Helena fazer uma campanha organizada em 2006 serão a estrutura frágil do PSOL e o tempo escasso na TV. O tempo de propaganda na campanha presidencial dependerá do número de candidatos ¿ quanto mais numerosos, menos minutos ela terá. ¿Vamos recorrer a estratégias alternativas de comunicação¿, diz o secretário de Organização do PSOL, Martiniano Cavalcante.

Outro fantasma para o PSOL é a cláusula de barreira ¿ que, se não for alterada, exigirá de um partido, para sobreviver, pelo menos 5% dos votos nacionais e 2% em nove Estados. Os dirigentes do partido apostam em algumas candidaturas como a de Babá e a de Luciana Genro ¿ para alavancar a eleição de uma bancada federal. Pensam também na candidatura ao governo de São Paulo do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, outro egresso do PT. Outra opção é fazer uma campanha para tentar derrubar a cláusula de barreira. ¿É um instrumento reacionário¿, diz Temer. ¿Se ela vigorasse nos anos 80, o PT não existiria.¿