Título: Embraer aposta alto nos jatinhos
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2005, Economia & Negócios, p. B8

A Embraer se prepara para exibir sua principal aposta para o futuro. No mês que vêm, a empresa mostrará seu novo jatinho numa das maiores feiras de aviação executiva do mundo, a National Business Aviation Association (NBAA), em Orlando, nos Estados Unidos. Na verdade, não será um avião completo, mas o que tecnicamente se chama de mock-up, um modelo da fuselagem em tamanho natural com a configuração completa das cabines de passageiros e de comando. Na feira, será divulgado ainda o nome do novo avião, um segredo guardado a sete chaves. Por enquanto, é chamado de VLJ, abreviação de Very Light Jet (jato muito leve). O batismo marcará o início de sua carreira como produto da companhia. ¿É o ponto de partida de nossa estratégia de marketing. Será a partir desse lançamento que as encomendas de fato vão começar¿, explica Maurício Botelho, presidente da Embraer.

Comparado ao modelo 190, jato para 100 passageiros que acaba de chegar ao mercado norte-americano pelas mãos da empresa Jet Blue, o VLJ poderia ser visto como um projeto menor. Tem capacidade para seis pessoas e preço de US$ 2,8 milhões, pouco mais de um décimo do outro jato executivo da Embraer, o Legacy. No entanto, a empresa está despejando US$ 235 milhões no projeto que culminará com as primeiras entregas em 2008.

O jatinho será produzido nas fábricas de Botucatu e Gavião Peixoto, interior de São Paulo, num processo que envolverá poucos fornecedores ¿ diferentemente do que ocorre com os jatos regionais, que têm grande número de parcerias. O VLJ já terá em 2009 uma espécie de irmão maior, por enquanto conhecido como LJ (sigla em inglês para jato leve) e preço de US$ 6,8 milhões. Os dois se enquadram numa categoria de aviões baratos, que não deixam de lado o apelo tecnológico.

Especialistas em aviação executiva ouvidos pelo Estado apontam que os dois modelos têm todas as características para servirem de base para uma nova família de jatos executivos, uma lacuna na linha de produtos da empresa brasileira. Hoje, o Legacy está no topo da categoria dos aviões executivos, onde ficam os jatos de médio e grande porte, com preços a partir de US$ 10 milhões.

Os dois modelos da Embraer entram numa categoria nova, considerada extremamente promissora. Os jatos leves e superleves são dirigidos a empresas, clientes interessados em trocar o turboélice, endinheirados que querem pilotar seus próprios aviões e companhias de táxi aéreo.

Entre as duas categorias fica o segmento de tamanho médio, que pode ser definido como aqueles jatinhos que são pequenos, mas em que é possível ficar em pé dentro da cabine. ¿A Embraer, com certeza, vai se aproveitar de um vácuo deixado pela americana Raytheon e pela Bombardier/Learjet, empresas que têm apresentado dificuldades de renovar suas linhas de jatos executivos¿, avalia Ruy Thomaz de Aquino, presidente da TAM Táxi Aéreo Marília, empresa do grupo TAM que é também importadora do principal concorrente dos novos jatos da Embraer, o Cessna Mustang, lançado em junho.

De qualquer forma, a tarefa dos jatinhos não será fácil. A Embraer pretende abocanhar 30% de um mercado estimado em 3 mil jatos nos próximos dez anos. Só que larga atrasada. O Cessna Mustang já está voando nos Estados Unidos, com 230 unidades encomendadas. O avião chega ao Brasil em julho de 2007 e a TAM Taxi Aéreo Marília já conta com 23 pedidos confirmados do avião. E oferece uma grande vantagem: financiamento em dólar, com juros americanos, oferecido pela própria Cessna. ¿Para comprar um Mustang basta dar uma entrada de US$ 350 mil e financiar o resto em 10 anos, com prestações de US$ 20 mil por mês, com juros de 6,5% ao ano.¿

Nos Estados Unidos, outro fabricante, a Eclipse Aviation Corporation, que tem entre seus investidores Bill Gates e Paul Allen, da Microsoft, faz os primeiros vôos com protótipos de seu modelo Eclipse 500. Em junho, firmou um contrato de fornecimento de 239 aeronaves para a Day Jet, empresa que pretende inaugurar um novo modelo de companhia aérea chamado per-seat, on-demand, que reúne o preço do vôo comercial com a comodidade do táxi aéreo.

Para Botelho, o grande trunfo de seu avião é o espaço interno. Da mesma forma que o 190 surpreendeu os especialista em aviação e companhias aéreas dos Estados Unidos, em termos de conforto para o passageiro, o novo jatinho também aposta no espaço interno. ¿Em termos de conforto, o VLJ é muito melhor que o Mustang e ainda tem preço parecido¿, compara o presidente da Embraer. ¿Já o LJ é um avião muito melhor que o VLJ e entra na competição com outro modelo da Cessna, o CJ3, com características melhores e um preço muito menor, da ordem de US$ 6,8 milhões¿.

O outro concorrente, o Eclipse, segundo ele, é um avião muito estreito, de cabine muito curta. ¿Imagine quatro pessoas voando numa situação assim¿, diz Botelho. É exatamente por isso que a Embraer está tão confiante na exibição, nos Estados Unidos, do modelo em tamanho natural da cabine concebido e decorado pela divisão de design do Grupo BMW.