Título: `A Belém-Brasília é um inferno¿
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2005, Economia & Negócios, p. B10

BELÉM - O caminhoneiro cearense Ferdinando Carvalho da Costa, de 48 anos, já perdeu a conta dos problemas que enfrenta nos mais de 20 anos em que trafega pela rodovia Belém-Brasília, transportando alimentos e eletrodomésticos de São Paulo para a capital paraense. Ele não estranha que a Confederação Nacional do Transporte tenha elegido a rodovia que ele tanto conhece como a pior do País. ¿É um inferno a gente andar por essa estrada. Se eu fosse cobrar do governo os prejuízos que já sofri, teriam de me pagar com uns cinco caminhões novos", afirma Costa. Qualquer motorista ou passageiro que saia de Belém em direção a Brasília, percorrendo 2.500 quilômetros, também tem motivos de sobra para transformar a viagem num tormento.

Os buracos, as depressões, a ausência de asfalto e a má sinalização estão por muitos trechos. Em um trecho de mil quilômetros entre Paragominas (PA), Imperatriz (MA) e Guaraí (TO), a estrada ¿está ruim até para quem faz turismo de aventura¿, ironiza o comerciante maranhense José Olavo Damasceno. Chamada na década de 60, injustamente, pelo ex-presidente Jânio Quadros, de ¿estrada para onças¿, a Belém-Brasília, construída por Juscelino Kubitschek para interligar o Centro-Sul ao Norte, ganhou hoje uma nova e mais condizente denominação pelos mais de 1,5 milhão de moradores das cidades que vivem às suas margens: é a rodovia dos remendos. O que já se gastou com asfalto para tapar seus buracos daria para construir outra mais moderna.

Os empresários de Imperatriz já fizeram apelos aos ministros que passaram pela pasta dos Transportes, mas nem assim viram a estrada melhorar de aparência. O máximo que conseguem com os protestos é uma operação tapa-buracos. E haja buracos para fechar.

Mas nem tudo está ruim. No Tocantins há obras de restauração da pista em vários trechos, um deles o que vai da fronteira com Goiás até a cidade de Miranorte. ¿Este ano começamos a atacar o trecho de Miranorte até o Maranhão¿, diz o coordenador do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte (Denit) no Tocantins, Rômulo do Carmo Ferreira Neto.

A situação mais crítica é a do trecho entre Guaraí (TO) e Presidente Kennedy, mas entre Araguaína e Nova Olinda sobram reclamações dos caminhoneiros. A pista, cheia de ondulações, é um convite a acidentes. No trecho de 60 quilômetros, boa parte foi recuperada. Dos 147 quilômetros entre Guaraí e Presidente Kennedy, 13 estão prontos.