Título: A melhor de todas oferece o que deveria ser regra
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2005, Economia & Negócios, p. B10

São 290 quilômetros de retas longas, com uma ou outra curva bem aberta. Placas indicam as próximas cidades, a velocidade permitida, a distância até o próximo pedágio ou posto de gasolina. A cada quilômetro, há uma espécie de interfone para pedir socorro. E os buracos, tão comuns nas estradas brasileiras, parece que se esqueceram da SP-310, a Washington Luís, no trecho entre Limeira e São José do Rio Preto, em São Paulo. A rodovia foi apontada como a melhor do Brasil pela Confederação Nacional do Transporte, que avalia o pavimento, a sinalização e a geometria da pista. Quem está acostumado com a estrada, concorda. ¿Buraco aqui não tem, não. Só aparece em época de muita chuva, e os responsáveis logo consertam¿, conta o policial militar André Rampazo, que trabalha na base operacional de Araraquara, no meio da rodovia. Ele trabalhava anteriormente numa base próxima a Barretos, ¿e lá era muito, muito mais complicado¿. Na Washington Luís, os acidentes são poucos. ¿Às vezes é uma pedra que voa e amassa o carro, quando estão cortando a grama, ou um animal cruza a pista. E há os que se acidentam sozinhos, por excesso de velocidade.¿

Apesar de as muitas placas indicarem que o limite na SP-310 é de 110km/h, as retas imensas podem dar ao motorista a sensação de que ele pode pisar fundo ¿ o que resultará em multa, dada a grande quantidade de radares. Às vezes, a pista causa o efeito contrário, e motoristas pegam no sono. ¿Aqui não dá pra levar com sono, já vi caminhão deitado porque o motorista dormiu¿, conta o caminhoneiro João Edir Albert. ¿Tiro meu cochilo depois do almoço e guio bem, porque essa é a rodovia mais tranqüila que conheço.¿

Nem sempre foi assim. A duplicação, terminada em 1990, custou 14 bilhões de cruzados e visava a diminuir os acidentes entre Matão e São José do Rio Preto. Em 1998, duas concessionárias assumiram o trecho: a Centrovias administra entre Limeira e São Carlos e a Triângulo do Sol é responsável a partir dali até Mirassol. Elas investiram, respectivamente, R$ 145 milhões e R$ 350 milhões em obras.

¿Havia problemas de pavimentação, sinalização e drenagem quando assumimos¿, conta Eneo Palazzi, diretor superintendente da Centrovias. ¿As placas e pinturas foram totalmente refeitas, os trevos foram remodelados e as pontes e viadutos restaurados.¿ Natalino Martins, diretor técnico da Triângulo do Sol, lembra também a instalação de postos de apoio ao usuário, com guinchos, ambulâncias e a monitoração por câmeras.

Os usuários pagam por essa segurança: para fazer todo o trecho, são 4 pedágios de cada lado, totalizando R$ 62,40 na ida e volta. Esse é o preço para trafegar pela melhor rodovia do Brasil, bem sinalizada, sem buracos, com acostamento ¿ características básicas a qualquer rodovia.