Título: R$ 12 bi, o preço para salvar estradas
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2005, Economia & Negócios, p. B10

As estradas brasileiras exigem um investimento de R$ 12 bilhões por ano durante cinco anos para ficarem em boas condições de tráfego. Esta é a opinião de Paulo Resende, pesquisador e professor da Fundação Dom Cabral. ¿Neste ano, o orçamento para transportes foi de R$ 4 bilhões e nem tudo foi investido¿, comenta. ¿Vivemos 40 anos de ampliação da malha rodoviária. A extensão foi prioridade sobre a manutenção e outros meios de transporte.¿ As más condições das estradas brasileiras foram confirmadas por uma pesquisa recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Segundo o levantamento, 72% das rodovias são deficientes, ruins ou péssimas.

Essa situação tem influência também sobre a competitividade do País. ¿Uma boa estrutura rodoviária atrai investimentos. Mas no Brasil, onde de 68% a 70% da carga é transportada por rodovias, a péssima estrutura rodoviária obriga os empresários a reduzir as margens de lucro ou aumentar o preço final do produto para continuar no mercado¿, diz o pesquisador. Segundo Resende, as estradas brasileiras aumentam em 30% o custo operacional dos negócios e reduzem em 40% a vida útil dos caminhões ¿ além de fazerem do País o recordista mundial em acidentes com mortes envolvendo caminhões. O tempo médio do frete rodoviário aumentou 20% nos últimos dois anos e prazos começaram a ser descumpridos.

Como conseqüência, as empresas procuram alternativas de fornecedores mais confiáveis. Empresas de fora estão buscando outros países e mesmo dentro do Brasil há mudanças. Empresas do Triângulo Mineiro preferem comprar de São Paulo, onde há estradas melhores, a comprar de Minas Gerais, para ter a garantia da entrega. Outra opção é aumentar os estoques. ¿Nesse caso, o dinheiro que poderia ser investido fica empatado nos estoques para garantir que não faltará produto. Os estoques do Brasil são 20% maiores que os dos EUA por problemas de infra-estrutura¿, diz Resende.

O coordenador de Desenvolvimento de Transportes da CNT, Luis Sérgio Silveira, conta que a maior concentração de boas estradas está no Sudeste, especialmente em São Paulo. ¿Mas as primeiras colocadas no ranking da pesquisa são todas concessionadas. O orçamento da União não é suficiente para manter a malha.¿

QUADRO ASSUSTADOR

A pesquisa da CNT avaliou 81,9 mil quilômetros de rodovias ¿ 100% das federais e algumas estaduais e transitórias ¿ em três quesitos: pavimento, sinalização e geometria (formato da pista). A maioria apresentou problemas nos três quesitos: ¿54,6% têm problemas de pavimento, 60,7%, de sinalização e 83,3%, de geometria,¿ diz Silveira.

Mesmo as melhores estão longe das grandes rodovias da Alemanha ou Estados Unidos. A primeira colocada, a Washington Luís, tem como diferencial o asfalto sem buracos e a boa sinalização (ver texto ao lado). ¿Um asfalto bom e uma pista larga são exceções no País¿, diz o coordenador.

Segundo a pesquisa, 89,9% das rodovias são simples, de mão dupla. E o quadro está piorando. ¿Do ano passado para este ano, o número de rodovias em condições péssimas cresceu 3,6%¿, lamenta Silveira.