Título: Horas antes do crime, briga e choro
Autor: Camilla Rigi
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Metrópole, p. C1

A relação de amizade entre Fábio Le Senechal Nanni e Rafael Azevedo Fortes Alves já estava comprometida. Segundo amigos de Rafael, o estudante, nos últimos dias, aparentava se sentir sufocado e cogitava deixar a república em que morava com Fábio e mais dois colegas. Na noite de quinta-feira, os alunos discutiram em mais de uma ocasião na universidade. Por volta das 20h30, a faxineira Rosália Souza viu ambos no laboratório de redação. "Fábio falava para Rafael: 'Você vai ter que fazer isso.' Rafael, parecendo não dar muita atenção, pois estava ao telefone, respondeu apenas: 'Já disse que não vou fazer'." A faxineira pensou que era uma discussão sobre algum trabalho da faculdade. Às 21 horas, quando saiu do Departamento de Jornalismo e Editoração, Rosália viu Fábio chorando desesperadamente diante da faculdade. O aluno não assistiu à última aula da noite.

A professora de Gerenciamento de Empresas Jornalísticas Elizabeth Saad viu Fábio passar pela porta de sua classe, mas não percebeu nada de anormal. Segundo ela, Rafael estava presente e, como sempre, participou da aula. "Eu, o Rafael e um outro rapaz da classe saímos do departamento às 23h15. Nessa hora, não vi o Fábio", contou Elizabeth.

A professora conversava com os estudantes sobre a carreira de jornalista. "O Rafael estava empolgado com o livro Sempre Alerta, que tinha acabado de ler. Indiquei, então, o Notícias do Planalto", disse. "Nunca vi os dois sentarem próximos na sala. Nem sabia que moravam juntos."

NOVA DISCUSSÃO

Fábio procurou Rafael novamente na Quinta&Breja - cervejada que acontece todas as semanas diante do Centro Acadêmico da ECA. Segundo o aluno Paulo Fávaro Gomes e Silva, de 20, por volta da 1 hora Rafael estava indo embora quando foi interceptado. "O Fábio, transtornado, dizia que tinha uma coisa muito importante para falar com o Rafael." Na confusão, segundo ele, Fábio tentou quebrar os óculos de Rafael que tinham caído no chão. Rafael manteve-se calmo e voltou com o colega em direção à festa.

Os dois conversaram por quase uma hora. As pessoas viram então Fábio com os braços no pescoço de Rafael. Imaginaram que um dos dois estivesse embriagado. Porém, ao chegar mais próximo, perceberam que Fábio tentava dar uma "gravata" no amigo.

"Nesse momento, fomos apartar a briga", afirmou Paulo. Segundo ele, Rafael não queria mais conversar com Fábio, que, por sua vez, segurava o amigo, impedindo-o de ir embora.

"O Rafa então disse para a gente deixá-los a sós, para acabar com aquilo de uma vez." Passados uns dez minutos, o grupo de amigos voltou a interceder. "Já eram mais de 2h30."

Apesar da insistência de Fábio, o grupo achou que a discussão tinha acabado. Fábio foi levado para a república e Rafael foi dormir na casa de amigos