Título: Aluno mata colega com facada na USP
Autor: Camilla Rigi
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Metrópole, p. C1

"Ele quer me matar. Não se assustem se ele fizer alguma coisa comigo."A declaração do estudante de Jornalismo Rafael Azevedo Fortes Alves, de 21 anos, a uma amiga na noite de quinta-feira já previa a tragédia que chocou a todos na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) na manhã de ontem. Às 9h20, Fábio Le Senechal Nanni, de 20 anos, entrou na redação da Rádio USP, na Cidade Universitária, e, em menos de dez minutos, deu uma facada no peito de Rafael e saiu correndo do local. "Quando entrei na redação, vi apenas o Rafael e entrei no estúdio. Cinco minutos depois, quando saí, já vi o outro rapaz ao lado dele. Mas eles conversavam em voz baixa", disse o diretor de Jornalismo da rádio e apresentador da Rádio Bandeirantes, Milton Parron.

De acordo com o relato de testemunhas, em nenhum momento os dois rapazes discutiram. "Só percebemos o que tinha acontecido depois que o Rafael gritou que ele tinha sido esfaqueado", contou Parron.

Depois da facada, Fábio correu para a saída, mas foi barrado por algumas pessoas que ouviram os gritos de um repórter da rádio dizendo que ele estava armado. Preso em flagrante, o rapaz foi levado para o 93º Distrito Policial e disse que só falaria em juízo. Acusado de homicídio doloso (com intenção de matar), ele deverá ficar preso até o julgamento. "Eu perguntei a ele se tinha noção do que tinha feito. Ele disse que não se arrependia", disse Silvana Pires, uma das produtoras da rádio.

Rafael foi socorrido minutos depois e encaminhado para o Hospital Universitário ainda com vida. Segundo a Assessoria de Imprensa da USP, ele teve uma parada cardíaca ao chegar ao hospital. O corpo de Rafael permanecia no Instituto Médico-Legal Central até o início da noite da ontem.

Os dois estudantes cursavam o segundo ano de Jornalismo noturno na ECA e moravam juntos desde o primeiro ano da faculdade. Outros dois colegas de classe também dividiam a casa, perto do campus. "Eles estavam se desentendendo havia algum tempo. E o Rafael pensava em sair da república", contou Beatriz Camargo, diretora do Centro Acadêmico da ECA.

O crime deixou traumatizados os colegas dos dois. Cada um que chegava ao Departamento de Editoração abraçava os outros e chorava. "Na quarta-feira, os dois foram à minha casa para discutir a chapa para a eleição do CA e parecia não haver problema algum", lembrou o estudante de Artes Cênicas Rafael Versolato.

Os amigos não souberam explicar ao certo o ato de Fábio. O primeiro indício de que a relação dos dois estava com problemas foram duas brigas, uma com troca de tapas, na noite anterior ao crime. "O Fábio tinha uma dependência muito grande do Rafael. E ele queria dizer alguma coisa que o Rafa não quis escutar", contou Beatriz.

Ela disse que Fábio contou que tinha histórico de depressão e chegou a tomar remédios. "Fábio era muito carente, tinha ciúmes do amigo, mas não dá para dizer se era algo sexual", declarou a diretora do CA.

Fátima Guimarães, de 44 anos, webdesigner e amiga da família de Rafael, que mora em Caieiras, na Grande São Paulo, disse que ele quase não ficava em São Paulo. "Ele tinha a casa como ponto de apoio, mas, em geral, voltava para Caieiras, para ficar com os pais e a namorada, que é sua vizinha."

O diretor da Rádio USP, Marcello Bittencourt, lamentou a morte de Rafael. "Ele era um menino muito esforçado."