Título: Crime na USP reforça tese, diz frente pró-arma
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Metrópole, p. C4

O assassinato do estudante de Jornalismo Rafael Azevedo Forte Alves com uma faca, ontem, no campus da Universidade de São Paulo (USP), poderá influir no resultado do referendo sobre a proibição da venda de armas de fogo e de munição no País. Essa é a opinião daqueles que defendem o não ao veto às armas no referendo, agrupados na Frente pela Legítima Defesa. "Quando uma pessoa é má, tem um comportamento violento e intenção de matar, vai dar um jeito de conseguir realizar seu objetivo, não importa a forma como vai fazer isso", disse o professor Bene Rodrigues, que pertence à organização não-governamental (ONG) Viva Brasil e é o ideólogo da frente do não.

Ainda pela manhã, era possível encontrar mensagens em defesa do não no referendo até na página do Orkut mantida pelo acusado do crime, o estudante Fábio La Senechal Nanni. Eram e-mails que usavam o crime como mais um argumento pela manutenção da venda de armas e munição no Brasil no referendo do dia 23.

"Trata-se de uma lamentável violência, mas não se deve tirar proveito publicitário do episódio para a propaganda do referendo", afirmou o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da Frente Parlamentar por um Brasil sem Armas. Ele afirmou que um caso como esse não serve como estatística para fundamentar a adoção ou não de uma política pública, até porque 64% dos homicídios no País são praticados com armas de fogo, enquanto os assassinos utilizam armas brancas, como facas, em 19,8% dos casos registrados.

Barbosa não discute a predominância das armas de fogo como meio mais usado para matar no País, mas afirmou que as armas utilizadas nesses crimes vêm do contrabando, mesmo as de origem nacional. Para o professor, são elas, e não as compradas em lojas, que vão servir para abastecer a criminalidade.

"Quem vai cometer um crime não vai entrar numa loja e comprar uma arma. Não vai esperar seis meses a liberação para ter sua arma de fogo", disse Barbosa. Segundo ele, o criminoso tentaria o caminho mais simples: o comércio ilegal. "Se o assassino quisesse, bastava ir a uma boca-de-fumo qualquer para comprar um revólver por R$ 200,00 ou R$ 300,00."

CHANCE

O deputado Jungmann, que estava em São Paulo ontem, disse que o risco de alguém morrer após uma agressão com arma de fogo é 3,5 vezes maior do que com uma arma branca. Isso significa que 75% das pessoas feridas a bala morrem, enquanto os ferimentos por armas brancas provocam a morte de 36,5% das vítimas. "A letalidade da arma de fogo é muito maior. O estrago que ela pode causar não tem comparação", afirmou Jungmann. No caso concreto de ontem, ressaltou, o autor do crime podia ter matado outras pessoas, se estivesse com uma arma de fogo.

No mesmo sentido, Dênis Mizne, do Instituto Sou da Paz, afirmou que não é à toa que os Exércitos usam armas de fogo e não facas. "A presença da arma de fogo aumenta a letalidade dos conflitos." Mizne rebateu ainda o argumento de que o criminoso vai substituir uma arma por outra, quando tem a vontade de matar. Ele citou o caso da Austrália, onde o número de homicídios com arma de fogo caiu 50% em cinco anos, depois da proibição da venda desse tipo de armamento no país. O número total de assassinatos, no entanto, diminuiu 43%. "A diferença inclui os loucos que matariam de qualquer jeito e mostra que, mesmo assim, a redução foi significativa."