Título: Brasil negocia compra de antiviral
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Vida&, p. A36

O Brasil acelera os preparativos para enfrentar uma provável epidemia provocada por um supervírus de gripe. Ontem, o Ministério da Saúde iniciou as negociações para a compra do antiviral Tamiflu, considerado capaz de controlar a infecção. Na próxima semana, governo e laboratório fabricante, Roche, deverão definir os detalhes da compra. A quantidade a ser encomendada ainda não foi definida. Mas o Brasil pediu o preço e o calendário de entrega para três situações: remédios suficientes para atender 2%, 5% e 10% da população. Até agora, 40 países já fizeram suas encomendas ao laboratório. Embora repita que o antiviral não será suficiente para conter a epidemia, o secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, admite que ele pode ser um recurso útil para ser aplicado em pessoas mais vulneráveis, como idosos, crianças, profissionais de saúde ou pessoas que tiveram contato com infectados pelo supervírus.

Ao contrário dos demais países, que encomendaram o medicamento pronto ou em fase final de preparação, o Brasil propôs à Roche importar a substância ativa do remédio. Caberia ao laboratório Farmanguinhos colocar a substância em cápsulas. "Vamos ver qual proposta é mais barata e melhor", disse Barbosa. O diretor da Roche, João Carlos Ferreira Júnior, afirmou que a empresa ainda vai estudar o pedido. O Brasil solicitou também um orçamento e calendário para a compra do produto em fase final de preparação - em pó e, antes do uso, é preciso acrescentar água. A vantagem desta formulação é que seu prazo de validade é maior: dez anos. "Se uma epidemia não vier, o produto pode ser usado no tratamento de gripes", disse.

Barbosa afirma que o plano do Brasil para enfrentar a pandemia já está em fase final de preparação. Planos para atendimento em hospitais, como médicos e profissionais de saúde devem agir e quais remédios usar estão entre as recomendações feitas. O trabalho também prevê quem vacinar, quem deve receber remédios e quem deve ficar em observação.

O secretário afirma, no entanto, que a estratégia para conter o supervírus deve ser mundial. Para ele, a criação de um fundo para países atingidos é tão importante quanto remédios, vacinas ou planos de contingência. A doença tem como ponto de partida a gripe aviária. Quando os primeiros focos são encontrados, a tática recomendada é dizimar populações de aves atingidas. Foi assim em Hong Kong e nos demais países com registros da doença. Até agora, 140 milhões de aves foram abatidas.

"Para garantir ações rápidas, países precisam ter a certeza de que, mesmo com uma epidemia, não sofrerão retaliações. Mas compensações", disse. Em novembro, uma reunião em Genebra deverá ser realizada para discutir justamente a formação desse fundo. "Ele é crucial. E tem de vir rápido. Pois vivemos um período pré-pandêmico", resume.

Barbosa não tem dúvida de que a epidemia chegará. "Isso vai ocorrer assim que o vírus sofrer nova mutação e, com ela, ganhar capacidade de se transmitir de pessoa para pessoa".

Segundo Barbosa, algumas atividades do plano de contingência no Brasil já estão em prática, como a ampliação do serviço de vigilância. "Se tivermos um surto da doença, dificilmente ele passará despercebido." Para o secretário, a vigilância e a adoção rápida de algumas medidas de contenção são as melhores armas para evitar que a doença se alastre.

Além da compra do medicamento, o País se inscreveu para produzir a vacina do H5N1, o vírus da gripe aviária, que já contaminou 117 pessoas - das quais 64 morreram. "Não sabemos ainda se a pandemia será provocada por uma variação desse vírus. Mas ele é o candidato preferencial", avalia o secretário. Pesquisadores do mundo todo por enquanto lutam para vencer uma dificuldade na produção dessa vacina, a cultura do H5N.