Título: A Europa está em alerta máximo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Vida&, p. A36

A chegada do temido vírus H5N1 da gripe aviária à Europa, com a confirmação de sua presença na Turquia, deixou todo o continente em estado de alerta máximo. A Comissão Européia (o braço executivo da União Européia) determinou a todos os países membros que identifiquem suas áreas de risco, comuniquem às autoridades sanitárias até a menor suspeita da doença em aves domésticas e isolem os animais criados em granja das aves selvagens, as que carregam o vírus. O governo da Itália anunciou que vai comprar 6 milhões de vacinas antivirais para proteger a população. A Comissão Européia, no entanto, pediu que a população não entre em pânico. "É menos provável que os europeus sejam infectados, em comparação com os asiáticos, porque aqui há uma separação maior entre os humanos e as aves domésticas", diz um comunicado do Comitê Permanente da Cadeia Alimentar da União Européia.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, pediu que os países adotem uma posição de transparência para evitar uma pandemia. "O mundo não deve ser pego de surpresa por uma perigosa pandemia em razão de países que se recusam a trocar informações", disse, em Paris.

A presidência britânica da União Européia convocou uma reunião extraordinária de ministros de Exterior na terça, em Luxemburgo, para discutir, entre outros temas, o aparecimento da gripe aviária no continente.

A Romênia, país do leste europeu onde o vírus H5 da gripe aviária foi encontrado nesta semana, permanecerá sob tensão até amanhã, quando se saberá se se trata do H5N1, que já matou ao menos 60 pessoas na Ásia desde 2003. O resultado dos exames feitos em aves mortas na região do delta do Rio Danúbio deveria ter saído ontem, mas foi atrasado por causa de problemas no transporte das amostras.

A suspeita de que nove pessoas contraíram o vírus da gripe aviária levou pânico à Turquia. Elas, que vivem na região de Kiziksa, onde 40 pombos morreram, passaram todo o dia de ontem sob intensa observação médica. Acabaram sendo liberadas depois que se concluiu que não tinham a doença. Ainda na Turquia, autoridades sanitárias continuam investigando a morte de dez galinhas em Sanlilurfa, uma província no sudeste do país.

A Turquia, na divisa entre a Europa e o Oriente Médio, está na rota das aves migratórias que saem da Ásia - o berço da doença - em direção à África. A gripe aviária foi detectada no país nesta semana, depois que 1.800 perus morreram numa fazenda a 120 quilômetros de Istambul.

A doença também assusta a América. Uma forma mais fraca do vírus da gripe aviária foi encontrada na Colômbia. Como precaução, Venezuela, Peru, Equador, Panamá e Bolívia decidiram suspender a importação de frango colombiano. O governo da Colômbia reagiu afirmando que o vírus encontrado no país não representa perigo para a saúde.

VÍRUS MAIS FORTE

Diante do problema, a revista científica Nature resolveu antecipar da semana que vem para ontem um estudo que mostra a existência de uma cepa do vírus H5N1 resistente ao antiviral Tamiflu, até agora considerado o único medicamente eficiente contra a doença.

Essa nova cepa foi encontrada em uma adolescente do Vietnã, que, acreditam os cientistas, adquiriu a doença do irmão e não do contato com aves infectadas.

MEDICAMENTO: A maior companhia farmacêutica da Índia, Cipla, informou ontem que planeja levar ao mercado um genérico do antigripal Tamiflu no começo de 2006. O estoque mundial do medicamento ainda é pequeno, comparado ao medo de uma possível epidemia. Mas a farmacêutica suíça Roche, que produz o Tamiflu, recusou-se a licenciar a versão genérica da droga mesmo depois da pressão de diversos países e do secretário das Nações Unidas, Kofi Annan.

O presidente da Cipla, Yusuf Hamied, afirmou que a companhia está pronta para comercializar o genérico, que será muito mais barato que o Tamiflu, principal droga disponível para o tratamento de pessoas infectadas com a gripe do frango. "Estamos em processo de aumento da produção para comercialização, o que deve se completar no próximo mês." Ele não disse quanto vai custar o genérico. Uma cartela com 10 comprimidos de Tamiflu custa cerca de U$ 60.

Os pacientes têm de tomar o remédio diariamente por pelo menos uma semana, mas a dosagem pode se estender por mais seis semanas no caso de pessoas que morem nas áreas afetadas pela epidemia. Na maioria dos países da Ásia, a lei permite que o governo quebre a patente em emergências e autoriza a venda dos genéricos.