Título: Nogueira-Neto, Guerreiro da Educação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Vida&, p. A40

O professor e ambientalista Paulo Nogueira-Neto, de 83 anos, recebeu ontem o Prêmio Professor Emérito - Troféu Guerreiro da Educação, uma promoção conjunta do Centro de Integração Empresa Escola (Ciee) e do Estado. Precursor dos estudos sobre meio ambiente no País e professor emérito de ecologia da Universidade de São Paulo (USP), Nogueira-Neto foi homenageado na manhã de ontem, no auditório do jornal, em uma cerimônia que reuniu acadêmicos, pesquisadores, empresários e autoridades do setor educacional. Das mãos do diretor do Estado, Ruy Mesquita, o professor recebeu o troféu concedido há nove anos a personalidades que construíram uma trajetória de destaque na Educação. Desde 1997, foram premiados a ex-primeira dama e antropóloga Ruth Cardoso, o jurista Miguel Reale, a ex-ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz, o médico Luiz Décourt, o economista José Pastore, o engenheiro Antônio Hélio Guerra Vieira, o sociólogo e crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza e o professor e zoólogo Paulo Vanzolini.

Formado em Direito e História Natural, Nogueira-Neto enveredou pela área ambiental ao se interessar pelas abelhas sem ferrão, um dos seus grandes objetos de pesquisa. Em uma carreira que uniu o compromisso acadêmico com a atuação política, foi o responsável por introduzir na agenda do País o tema da conservação da natureza.

Dirigiu por mais de dez anos a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), órgão criado pelo governo militar, embrião do Ministério do Meio Ambiente. Na década de 1980, foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na Comissão Brundtland, das Nações Unidas, onde surgiu o termo "desenvolvimento sustentável". Cunhou a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida em 1981.

Atualmente, participa de seminários e orienta teses de pós-graduação no Instituto de Biociências. Todos marcos de seu currículo relembrados ontem, durante a premiação. "Esse prêmio é uma grande surpresa porque vocês estão me premiando pelas coisas que eu mais gosto de fazer", afirmou em seu discurso, no qual contou lembranças de infância, dos vôos sobre áreas ecológicas e da dedicação ao ensino. "Quero agradecer a todos os que fizeram possível a gente fazer com que o meio ambiente seja tratado seriamente no Brasil."

HOMENAGEM

Após a execução do Hino Nacional pelo coral Madrigal Sempre em Canto, regido pela maestrina Regina Kinjo, o professor Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do Ciee, apresentou o ambientalista como o "pai da ecologia brasileira". Souza foi seguido pelo presidente do Ciee, Luiz Gonzaga Bertelli, que falou sobre a parceria entre o centro e o jornal, e o compromisso das instituições com a educação. Para Bertelli, Nogueira-Neto "plantou as sementes da moderna administração ambiental no País".

Adotando um tom mais pessoal, e citando memórias comuns a antigos amigos, o homenageado do ano passado, o zoólogo Paulo Vanzolini, lembrou o início da carreira de Nogueira-Neto e seu primeiro contato com as abelhas. "O pai de Lúcia (mulher do ambientalista) deu a Paulo uma colméia de abelhas sem ferrão. Ele se interessou pelas abelhas e, aí entra o viés do profissional, ele entendeu qual era o problema científico intocado que estava naquele material", disse o zoólogo, um dos primeiros diretores do Museu de Zoologia da USP.

"O Paulo começou a aparecer demais no museu, mais do que nossa amizade justificava. Um dia eu e a Lúcia pusemos ele no canto da parede e dissemos: você está se preparando para ser amador, e isso é errado. Amador é coisa de ONG. Você tem de entrar na universidade e se fazer um profissional.".

A saudação do diretor do Estado, Ruy Mesquita, também contemplou momentos de uma amizade antiga, iniciada pelas gerações anteriores das famílias e propiciada pela proximidade na infância. "Não resisto em fazer aqui um parêntesis, para registrar minhas velhas ligações com o amigo Paulo, filho de Paulito e Regina, os saudosos amigos de meu pai. Morávamos na mesma rua - a Brasílio Machado -, fomos visitar nossos pais no exílio, em Buenos Aires, e até assistimos juntos à batalha do Rio da Prata", lembrou.

Ruy Mesquita ressaltou ainda a importância da atuação do ambientalista na criação de uma consciência ambiental no Brasil. "Sobretudo com suas pesquisas sobre a influência das culturas humanas na Natureza e a influência da Natureza nos comportamentos humanos, resume ele o que de melhor as novas gerações podem aprender em termos de consciência ambiental", disse, antes de entregar o troféu ao professor emérito de 2005.