Título: Vote 'sim'
Autor: Mauro Chaves
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Espaço Aberto, p. A2

Se você acha que, mesmo não gostando de armas de fogo e não as possuindo, não tem o direito de um dia vir a adquirir uma, em caso de estrita necessidade, em legítima defesa de sua pessoa e de sua família, vote sim. Se você acha que todos os que defendem esse direito só estão interessados em que os fabricantes de armas vendam cada vez mais e tenham maiores lucros, vote sim.

Se você acha que é certo existir uma reserva de mercado para os atuais possuidores de arma, de tal forma que só os que já têm podem continuar tendo, mas os que não têm jamais poderão adquiri-la, vote sim.

Se você acha que deve abrir mão do direito de adquirir uma arma, mesmo tendo o ministro da Justiça afirmado que a proibição em nada reduzirá a criminalidade - e, como bem-sucedido defensor de criminosos em toda a sua vida profissional pregressa, ele entende do assunto muito bem - vote sim.

Se você acha que, no caso de já possuir uma arma, não há problema algum em não poder comprar munição para ela, em território nacional, vote sim.

Se você acha que o Estado brasileiro está demonstrando plenas condições de oferecer toda a segurança aos cidadãos, não havendo necessidade alguma de estes terem em suas casas meios de resistir à violência dos bandidos, vote sim.

Se você acha que, na infeliz hipótese de ser assaltado com arma de fogo, a maior probabilidade é de que o assaltante esteja com uma arma comprada normalmente e registrada, apesar de existirem no País 2 milhões de armas registradas e 20 milhões sem registro, vote sim.

Se você acha que, estando em lugar isolado, em sua residência, seu sítio ou sua chácara, se sentirá mais seguro se estiver desarmado, ante bandidos que cheguem deslocando-se rapidamente, em suas motos e com seus capacetes-máscaras, vote sim.

Se você acha que os bandidos se sentirão mais inibidos, mais hesitantes em assaltar sua casa, por saberem que você não possui arma alguma que os possa ameaçar, vote sim.

Se você acha que deve deixar sua segurança inteiramente a cargo de empresas privadas especializadas, ao custo médio de R$ 13 mil mensais (segundo especialistas), vote sim.

Se você acha que a proibição da comercialização de armas em território nacional não estimulará o aumento vertiginoso do mercado negro de armas, potencializando ainda mais a atuação crime organizado e a violência dele gerada, vote sim.

Se você acha que a proibição da comercialização de armas em território nacional não tirará do Estado nenhuma possibilidade de controle - mesmo precário, como é hoje - da circulação de armas no País, vote sim.

Se você acha que a falta desse controle, pelo fato de todo o mercado de armas passar para a clandestinidade, não dificultará as investigações criminais, vote sim.

Se você acha que não vem ao caso o fato de em democracias, como a norte-americana e as européias, com maior ou menor controle quanto ao porte, não existe proibição de aquisição de armas, vote sim.

Se você acha que não vem ao caso o fato de países, como o Canadá e a Suíça, em que é altíssimo o índice de armamento de seus cidadãos, mostrarem baixíssimos índices de criminalidade, vote sim.

Se você acha que não vem ao caso o fato de que na Inglaterra, um dos únicos países europeus que proibiram a posse e a venda das armas de fogo - e assim mesmo, acima do calibre 22 -, o número de crimes com armas de fogo praticamente dobrou desde aquela proibição, em 1997, vote sim.

Se você acha que não vem ao caso o fato de Hitler ter tido como uma de suas primeiras providências, logo que assumiu a Chancelaria, em 1933, uma vasta campanha de desarmamento dos cidadãos, e que a rigorosa lei contra a posse de armas dos judeus - com punição de 20 anos de prisão à pena de morte - foi baixada pelos nazistas em março de 1938 (mês da anexação da Áustria, o Anschluss), alguns meses antes da Kristallnacht, vote sim.

Se você acha que também não vem ao caso o fato de a mais rigorosa proibição de posse e comércio de armas ter sido decretada por Mugabe, o ditador do Zimbábue, que matou de inanição ou executou 6 milhões de pessoas (e se confessa o maior admirador Hitler), vote sim.

Se você acha que é mera coincidência o fato de a proibição do comércio de armas em território nacional ser obra do governo do PT, vote sim.

Se você acha que é mera coincidência o fato de todos os militantes petistas serem entusiasticamente favoráveis a essa proibição, vote sim.

Se você acha que o governo petista é detentor das melhores credenciais para o combate ao crime e à impunidade, vote sim.

Se você acha que essa proibição ao comércio de armas em território nacional não está sendo utilizada pelo governo como uma panacéia da segurança pública, para levar à população brasileira a falsa idéia de que está havendo eficiência no combate ao crime, vote sim.

Se você acha que não há possibilidade de você guardar uma arma em casa, com munição em lugar inteiramente separado, em cofre ou outro lugar seguro e trancado, mais longe do alcance das crianças do que quaisquer medicamentos a elas nocivos, instrumentos perfurantes como facas, facões ou tesouras, locais perigosos como janelas de prédios, vote sim.

Se você acha que existe a possibilidade de ter arma em segurança, em casa, mas só para os que já a possuem, sendo impossível para os que ainda não a possuem e venham querer adquiri-la, vote sim.

Se você acha que a possibilidade de ocorrerem mortes por armas de fogo em acidentes, crimes domésticos, passionais, conflitos entre vizinhos, etc., existe apenas para os cidadãos que ainda não possuem uma arma (e queiram adquiri-la), e não para os que já a possuem, vote sim.

Se você acha que essa proibição não aumentará a corrupção, vote sim.