Título: 'Agricultura está no fundo do poço'
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou ontem que a agricultura brasileira está no fundo do poço e o quadro para 2006 é sombrio. "Há muitos fantasmas que pairam sobre o setor. Mas tenho confiança, esperança e otimismo de que vamos conseguir reverter esse cenário", disse ele, antes de se referir ao surto de aftosa em Mato Grosso do Sul, durante o lançamento do Plano Nacional de Agroenergia, em Piracicaba, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). No discurso, de quase uma hora, o ministro listou os principais fatores que têm derrubado o agronegócio brasileiro e afirmou que só neste ano a renda do setor já foi reduzida em R$ 17 bilhões. Entre os motivos que contribuíram para isso, citou o excedente de oferta que reduziu os preços de arroz, algodão e trigo.

Em contrapartida, disse o ministro, o custo de produção subiu muito por causa do aumento do petróleo e do aço. Além disso, o País viveu uma seca sem precedentes, que reduziu a produção de soja e milho. "Não há política agrícola que resolva essas questões", lamentou Rodrigues, que voltou a falar sobre a política econômica, desta vez em tom menos crítico.

Em relação ao próximo ano, afirmou que a expectativa é de uma forte redução de produtividade. O problema é que o País está num processo de redução dos estoques, até porque a elevada taxa de juros (em 19,5% ao ano) não permite que os produtores deixem a mercadoria parada, afirmou o ministro. "Isso nos preocupa, pois pode haver um recrudescimento inflacionário."

O ministro lembrou ainda que há outros problemas que precisam ser resolvidos para não comprometer a competitividade do setor agrícola. Entre eles, está o caos da infra-estrutura de transportes e a Lei de Biossegurança, cuja regulamentação não foi concluída até hoje.

Em um discurso em tom de desabafo, Rodrigues afirmou que se sente frustrado e não está feliz com os resultados do setor. "As coisas não andam como gostaríamos e ainda temos de conviver com a burocracia da máquina pública. Temos uma crise no setor e não consigo resolver."

O foco de aftosa em Mato Grosso do Sul foi qualificado pelo ministro como "um lamentável incidente". Ele afirmou que o Ministério da Agricultura tinha neste ano o melhor orçamento da década para defesa sanitária, em torno de R$ 169 milhões. Com o contingenciamento em março, esse valor caiu para R$ 37 milhões. Isso porque o orçamento da Embrapa não pode ser contingenciado.

O ministério ainda conseguiu elevar o montante para R$ 91 milhões. Mas até agora só R$ 50 milhões foram empenhados. "O desempenho é fraco já que os Estados não apresentaram programas para liberarmos os valores", afirmou ele. O ministro foi aplaudido de pé ao pedir que os empresários "não abaixem a cabeça e tenham força para superar a crise".