Título: Por enquanto, preços do boi e da carne se mantêm
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os prejuízos provocados pelo foco de aftosa registrado em Eldorado às exportações e ao setor pecuário nacional poderão ser bem menores do que o alardeado num primeiro momento. Até agora, uma semana após a constatação do foco, nem os preços do boi nem os preços da carne bovina recuaram. No mercado futuro, as fortes quedas verificadas de imediato já foram parcialmente anuladas com a recuperação das cotações. Antes do foco, a arroba (15 quilos) do boi era negociada entre R$ 59 e R$ 60 no interior paulista, faixa de preço que continua prevalecendo. Os futuros da BM&F chegaram a recuar de R$ 59,65 por arroba antes do foco para R$ 55,56 na quinta-feira, mas se recuperaram parcialmente na sexta, quando atingiram R$ 56,70. Sérgio De Zen, analista do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada, diz que tanto pecuaristas como frigoríficos estão fora do mercado, esperando o desenrolar dos fatos para agir. "O frigorífico não vai comprar mais bois enquanto não souber se irá vender a carne, e o pecuarista não vai vender o seu animal por um preço menor se não souber se o embargo decretado agora será temporário ou não", afirma.

O fato é que o foco de aftosa foi encontrado num momento atípico para o setor pecuário: o mercado está em plena entressafra, com pouca oferta de animais para o abate e, em decorrência, com pequena oferta de carne. Geralmente, na entressafra o mercado de carne é abastecido por bois confinados, criados de forma intensiva, em ambientes limitados e alimentados com rações e insumos especiais. Como os preços do boi estavam caindo sucessivamente há mais de um ano, atingindo o menor nível em 40 anos, o atual confinamento foi pequeno devido ao alto custo e baixo retorno, reduzindo a oferta de boi.

A queda da arroba também levou, nos últimos dois anos, a um crescente abate de matrizes e desova de rebanhos por parte de pecuaristas que preferiram apostar em atividades mais rentáveis, como a soja e a cana-de-açúcar. "Nos últimos 2 anos, o abate de matrizes reduziu o rebanho brasileiro em cerca de 12 milhões de cabeças", diz Victor Nehmi, presidente do Instituto FNP, especializado no setor pecuário. A expectativa é de que esta oferta limitada de animais tenda a deixar os preços sustentados nos atuais níveis. A oferta de carne bovina está tão limitada que os preços dos cortes negociados no atacado continuaram estáveis desde o foco, em torno de R$ 4,80 por quilo para o traseiro e R$ 3,30 para o dianteiro.

O pecuarista Diogo Castilho lembra que a Região Norte do País enfrenta uma seca e reduziu a oferta de gado para o Centro-Sul, comum na entressafra.