Título: Na fronteira, dúvidas e falta de informação
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Metrópole, p. C1

ELDORADO (MS) - Na fronteira, uma região onde a criminalidade é alimentada pelo tráfico de drogas e contrabando, a população mostra pouca informação sobre o referendo e, na maioria, é contra a proibição do comércio de armas. "Há risco de muita gente ser obrigada a entregar a arma e isso aqui é perigoso", diz o prefeito de Japorã, Rubens Freire Marinho (PDT). O referendo, porém, é sobre o comércio de armas e munição. Quem já tem arma registrada pode mantê-la. Em Japorã, que tem 40 km de fronteira, o prefeito defende o "não" no referendo. Ameaçado por fazendeiros após ter ajudado índios caiovás-guaranis, que disputam as terras da região, Marinho pediu proteção à Secretaria Estadual de Segurança Pública. "Quem me ameaça certamente tem armas", diz.

Por causa da violência, a gerente hoteleira Rosa Barros de Oliveira apóia a proibição. Seu irmão Antonio foi morto há um ano numa fazenda no lado paraguaio e não se sabe quem o matou. "Só sei que uma arma tirou a vida dele." Ela lembra que uma mulher da cidade foi morta pelo amante e deixou 4 filhos. Ele está foragido. "Se não estivesse armado..."

O comerciante Celso Ferreira da Silva, dono de um restaurante, diz que as pessoas têm medo de andar sem armas. "Aqui mora a cobra", diz, referindo-se a crimes como a chacina de 7 pessoas em Mundo Novo. O capataz de fazenda, José Aurélio Nogueira, disse que arma não resolve. "Deixa o camarada achando que pode tudo."

O comerciante João Pereira Carvalho, de Mundo Novo, vendeu armas por 24 anos e agora apóia o desarmamento. Dono da loja Tiro Certo, há um ano trocou o arsenal por sapatos, artigos esportivos e de pesca. "O Estatuto do Desarmamento já travou esse negócio."

Integrante do Centro de Tradições Gaúchas (CTG), ele vai se desfazer de 2 armas "antes que os ladrões levem". Dois colegas de CTG, o veterinário Gouget Barbosa e o microempresário Carlos Degell, também votarão sim. Mas, na cidade, a maioria pensa como o garagista Paulo Ferreira Barros. "Quem vai desarmar os bandidos?"

O cabeleireiro Manoel Jerônimo da Silva diz que o porte de armas devia ser autorizado na fronteira.