Título: Armas em promoção. No Paraguai
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Metrópole, p. C1

Na fronteira, lojas freqüentadas por brasileiros fazem promoção de espingardas e vendem munição pela metade do preço

SALTO DEL GUAIRÁ - A menos de uma semana do referendo sobre comércio de armas e munição no Brasil, lojas de Salto Del Guairá, no Paraguai, estão fazendo promoções para atrair compradores. A cidade, que fica na fronteira, faz divisa com Mundo Novo, em Mato Grosso do Sul, e seu comércio é movimentado pelos brasileiros. A seção de armas da Queen Anne, uma das maiores lojas da cidade, oferecia sábado uma linha de espingarda calibre 12, por preços promocionais de US$ 390 a US$ 410. No Brasil, uma arma dessas pode custar o dobro. Os brasileiros são 50% da clientela, diz o gerente Dilermando Ferle, para quem o resultado do referendo não influenciará seu negócio. "Nossa clientela é restrita a pessoas que continuarão autorizadas a ter armas (os atuais proprietários e quem tiver mais de 25 anos e provar necessidade de ter arma, mesmo que vença o sim)." Ele diz vender de 25 a 30 armas por mês, mas o movimento da seção conflita com esses números. As pessoas, a maioria brasileira, como o oficial de Justiça Fernando Politi, entram e pedem para ver o arsenal nas vitrines. "Estou doido para comprar uma dessas", diz, apontando uma pistola.

A atração maior é uma Magnum 44, que custa US$ 910. Otoniel Ferreira, fazendeiro do Paraná, que tem armas registradas, foi comprar munição. "No Brasil é três vezes mais caro."

Os irmãos Edson e Marcel Bertoni, também do Paraná, examinaram as escopetas da promoção, mas não compraram. A loja não trabalha com revólveres calibre 38, armas de "ladrão de galinha", segundo disse Ferle.

POTENTES

A procura é por armas pesadas e potentes, como rifles, escopetas e pistolas de calibres 40 e 45. Empresas de segurança compram fuzis alemães e checos por US$ 1.200 - trata-se de tráfico de armas, pois o uso civil de fuzis é proibido no Brasil. "Os bandidos estão usando AR-15."

A Casa Rossi está vendendo caixas de balas calibre 38 por R$ 35,00. No Brasil, custam R$ 250,00. "É isso que estimula o contrabando", diz o proprietário brasileiro Leandro Costa Neto, que trabalha com o filho Andrés. No Brasil, gasta-se até R$ 2 mil para ter uma arma registrada. "O governo brasileiro força o cidadão a ser ilegal."

Costa diz que as autoridades paraguaias exigem atestado de antecedentes, residência no país e porte de quem quer se armar. "Mas o porte custa R$ 80." Ele vende mais munição do que armas e a principal clientela são fazendeiros e policiais.

O Paraguai proibiu a venda de armas para turistas. Mas na rua não é difícil achar quem se habilite, "por uma comissão", a comprar uma pistola ou uma calibre 12 para um brasileiro. "Compra como se fosse para ele", ensina o segurança que trabalha armado numa das lojas.

Passar pela fronteira com a arma não é tão difícil. A maioria dos carros não é parado e, quando isso ocorre, a inspeção é superficial. Costa conta que muitos compram 50 caixas de munição para 38 e escondem na lataria do carro. O contrabandista gasta R$ 1.750,00 e vende no Brasil por R$ 12.500,00.