Título: Brasil e China criam grupo de trabalho para superar divergências comerciais
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

XIANGUE, CHINA - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o ministro das Finanças da China, Jin Renqing, decidiram ontem criar um grupo de trabalho para discutir estratégias conjuntas de crescimento econômico. O principal objetivo é frear o impacto negativo nas relações diplomáticas entre os dois países causado por recentes conflitos comerciais. "Tenho certeza de que isso ajudará a diminuir as tensões e vai gerar resultados importantes nas relações entre Brasil e China", disse Palocci. A tentativa de atenuar o clima de mal-estar com Pequim foi um dos principais objetivos da viagem de Palocci à China, onde participou da reunião do G-20. A iniciativa pode sinalizar maior atuação do Ministério da Fazenda nas negociações comerciais do País, área dominada pelas pastas das Relações Exteriores e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Palocci salientou que as relações com Pequim continuarão sendo negociadas de forma separada. A nova comissão pretende discutir uma estratégia sino-brasileira de longo prazo, com foco nos investimentos e promoção do crescimento econômico. "Não podemos deixar que problemas setoriais inviabilizem um trabalho muito maior de aproximação econômica, política, diplomática e comercial entre a China e o Brasil", disse. "Quando deixamos de manter relações apenas de compra e venda e estabelecemos laços mais estratégicos, que dizem respeito àquilo que os países pensam e querem no longo prazo, as questões comerciais encontram um ambiente de debate mais adequado."

Palocci disse que os países estão conscientes de que suas relações comerciais sempre enfrentarão dificuldades, principalmente em setores sensíveis como têxtil e calçados. "As diferenças serão tratadas com base nas regras da Organização Mundial do Comércio, inclusive eventuais salvaguardas. Queremos também estabelecer programa mais amplo com o governo chinês pois os interesses dos dois países estão acima de eventuais conflitos setoriais."

Segundo ele, a relação entre Brasil e China tem mais complementaridades que conflitos. Como exemplo, citou os produtos eletrônicos. "Somos importadores de insumos eletrônicos chineses, mas isso tem contribuído para as exportações brasileiras". Na área de joint ventures com empresas chinesas há avanços importantes que podem gerar maior comércio com outros países.