Título: Lula tenta convencer Putin a rever embargo
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

Presidente vai argumentar que surto atinge área restrita

MOSCOU - O alcance restrito da febre aftosa, detectada no Mato Grosso do Sul, e a garantia de que a doença está sob fiscalização permanente do governo, serão os principais argumentos com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende convencer o colega russo Vladimir Putin a rever o embargo à importação da carne brasileira. Lula dirá que se trata de um fato isolado e que foram atingidas menos de 600 cabeças de gado, em um universo de mais de 200 milhões. Insistirá ainda no fato de que o foco está em apenas uma fazenda de um Estado brasileiro.

A suspensão das compras russas tornou-se o principal tema do presidente Lula na visita a Moscou, que vai durar menos de 24 horas. A Rússia é o maior comprador da carne brasileira. Entre janeiro e setembro, o Brasil exportou US$ 406 milhões em carne para os russos. O país, no entanto, é também um dos mais exigentes em relação à qualidade e às garantias sanitárias do produto que importa.

Na sexta-feira passada, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e da Rússia, Serguei Lavrov, tiveram uma conversa preliminar sobre o embargo à carne brasileira. Amorim argumentou que a restrição russa era muito rigorosa, pois inclui frango e laticínios.

Segundo o Ministério da Agricultura, o embargo russo se estende a carnes de animais suscetíveis de serem contaminados por aftosa (bovinos, ovinos, suínos, caprinos), além de aves e todos os derivados.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, passou a integrar a comitiva brasileira na Rússia exclusivamente por causa da interrupção da importação de carne. Ele também vai apresentar argumentos técnicos para tentar inverter ou pelo menos amenizar a decisão do governo Putin.

Em sua primeira visita oficial à Rússia, Lula retribui a visita de Putin ao Brasil, em novembro do ano passado. Coincidentemente, a suspensão da compra da carne brasileira pela Rússia também foi o assunto mais delicado do encontro dos dois presidentes. Na época, a Rússia tinha cortado as importações por causa de um foco de febre aftosa detectado no Amazonas. O embargo só foi suspenso em março deste ano. Sete meses depois, o governo brasileiro encontra-se diante do mesmo problema, agravado pelo fato de a febre aftosa desta vez ter sido detectada em um importante Estado produtor, com as melhores condições tecnológicas de criação do gado.

Segundo integrantes da equipe responsável pela preparação da viagem presidencial, a intenção do governo brasileiro não é de convencer, mas de "esclarecer" as autoridades russas que a pecuária brasileira não está comprometida com o caso de Mato Grosso do Sul.

A expectativa do presidente Lula é conseguir reduzir a restrição ao menor tempo possível e restringir os produtos sob embargo, no máximo, à carne in natura, sem tratamento industrial.