Título: Cresce área de emergência da aftosa
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Economia & Negócios, p. C1

Sobe para sete o número de municípios em situação de emergência sanitária e há animais com sintomas em cinco fazendas

JAPORÃ (MS) - Os focos de suspeita de aftosa se expandem na região da fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Defesa Sanitária Animal vai ampliar a área sob situação de emergência na região. Até a tarde de ontem, já eram pelo menos cinco as propriedades com animais apresentando sintomas da doença em Japorã, cidade da região. Se a doença for confirmada, o estado de emergência sanitária, que desde a semana passada atinge as cidades de Eldorado, Japorã, Itaquiraí, Mundo Novo e Iguatemi, será estendido aos municípios de Sete Quedas e Tacuru. A emergência foi decretada com a confirmação do surto na Fazenda Vezozzo, em Eldorado. Todo o plantel, de 582 bovinos, foi abatido. Também foi confirmada a doença na Fazenda Jangada, vizinha à Vezozzo, em 270 animais que serão abatidos hoje. A área da fronteira sob vigilância vai aumentar dos atuais 80 para 140 quilômetros.

A prefeitura de Japorã vai decretar hoje estado de calamidade pública por causa dos possíveis focos de aftosa no município. A cidade já estava em estado de emergência municipal por causa da seca que atingiu o sul do Estado no primeiro semestre deste ano.

Prefeitos dos cinco municípios reúnem-se hoje com secretários do governador José Orcírio de Miranda (PT) para discutir um plano emergencial para a região. Rubens Freire Marinho, prefeito de Japorã, quer uma ajuda de R$ 300 para cada sitiante do município atingido pela interdição. Segundo ele, cerca de 350 dos 400 pequenos produtores rurais estão impedidos de comercializar leite, carne e derivados. "Eles tinham apenas essa atividade como fonte de renda."

A defesa sanitária considera crítica a situação do município por causa da presença de sem-terra e índios entre os criadores de gado. Um dos focos da doença surgiu no Assentamento Indianópolis, vinculado à Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri). O prefeito foi informado de que a doença pode ter chegado também na reserva Porto Lindo, dos índios caiovás-guaranis. Os indígenas têm cerca de 250 cabeças de gado. "O controle vai ficando cada vez mais difícil", comentou.

Técnicos da Agência Estadual de Sanidade Animal e Vegetal (Iagro) continuam a inspecionando fazendas e sítios do município, além de 267 pequenos criadores dos assentamentos. O Movimento dos Sem-Terra (MST) mantém um acampamento com mais de 200 famílias a cerca de 2 quilômetros de um dos possíveis focos. A mobilidade do grupo, que recentemente desocupou a fazenda Savaninha, preocupa.

No sábado, os sem-terra de outro acampamento consumiram a carne de três bois abatidos pela Polícia Rodoviária Federal. O líder do acampamento, Osmarino Xavier, disse que os acampados não têm bovinos e não pretendem deixar a área. Eles estão acampados numa reserva do Assentamento Roseli Nunes.

O governo paraguaio passou a usar a força aérea para fiscalizar a região de fronteira com o Brasil. Segundo o coronel Miguel Angel Aquino, comandante da 41ª Região Militar, helicópteros e aviões são utilizados para impedir que o gado brasileiro atravesse a fronteira. Ele negou a existência de aftosa no lado paraguaio. "O que sabemos até agora é que o foco surgiu em Eldorado, no Brasil. O resto é especulação."