Título: Viagem à ISS custará US$ 10 milhões
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Vida&, p. A12

Informação é do presidente da Agência Espacial Brasileira, que amanhã assinará acordo com a Rússia para ida de brasileiro ao espaço

MOSCOU - O governo federal vai investir cerca de US$ 10 milhões na primeira viagem de um brasileiro ao espaço, num projeto que, para o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Sérgio Gaudenzi, aproximará o Brasil do seleto grupo de países do primeiro time da tecnologia espacial. Para Gaudenzi, a missão do astronauta brasileiro Marcos César Pontes, que deverá passar oito dias na Estação Espacial Internacional (ISS) em março, fará o Brasil "mudar de patamar" no cenário internacional.

"A viagem do primeiro brasileiro ao espaço vai divulgar mais o programa espacial brasileiro do que nós faríamos em anos, sem a viagem", afirmou Gaudenzi ao Estado, poucas horas depois de desembarcar em Moscou. "Chegamos a um patamar em que não corremos mais o risco de parar, como aconteceu há alguns anos, por falta de recursos", concluiu.

Hoje, o presidente a AEB terá um encontro com o chefe da agência espacial russa, a Roskosmos, Anatoli Perminov. Amanhã, eles assinarão o contrato da viagem, na presença dos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que estará em visita oficial ao país.

Gaudenzi tem a expectativa de que o tenente-coronel Marcos Pontes, que chegou na quinta-feira à Rússia, onde fará um rigoroso treinamento até a viagem, possa ir à cerimônia, para encontrar Lula e Putin. Tudo dependerá de autorização da agência russa.

Segundo Gaudenzi, Pontes está "internado" no centro de treinamento da Roskosmos, chamado Cidade das Estrelas, nos arredores de Moscou e só pode sair nos dias de folga.

"Ele deve treinar até poucos dias antes de ir para a base de Baikonur, no Casaquistão, de onde partirá a nave espacial. É o maior centro de lançamento do mundo. Pontes me prometeu que em três meses estará falando russo", contou Gaudenzi. O astronauta brasileiro viajará com dois colegas russos.

PROGRESSO

O investimento do País na missão do astronauta brasileiro inclui o treinamento na Cidade das Estrelas, exames médicos necessários antes da viagem espacial, parte dos gastos com o vôo e com a nave espacial russa Soyuz e uma série de seguros obrigatórios. A missão de Pontes é fazer experimentos em um ambiente de gravidade praticamente nula. Ele levará 15 quilos de materiais variados, como óleos combustíveis e substâncias de pesquisa biológica. Dez quilos ficarão no espaço e cinco poderão ser trazidos de volta pelo astronauta, para análises no Brasil.

"Com nosso foguetes de sondagem, o máximo que conseguimos são experimentos durante sete minutos na microgravidade. Agora, serão oito dias", compara o presidente da AEB.

Para Sergio Gaudenzi, o programa espacial é um importante propulsor da alta tecnologia nacional.

Segundo ele, há dez anos, o Brasil aproximava-se de países como Índia e China no setor de pesquisa espacial. "Nós quase paramos e eles seguiram adiante. Hoje, estão lá na frente", comenta. O programa espacial brasileiro tem US$ 100 milhões no Orçamento da União. "Para o ano que vem, a previsão é o mesmo valor. Mas o ideal são US$ 200 milhões. Perto do US$ 1,5 bilhão de investimento dos Estados Unidos parece pouco, mas para nós é suficiente", diz o chefe da agência brasileira.

Pontes treinou durante vários anos na agência espacial americana, Nasa, mas, com a decisão do governo dos Estados Unidos de suspender os vôos espaciais, desistiu da idéia. Iniciou-se, então, uma negociação entre as agências brasileira e russa, que durou um ano. "Foi uma longa conversa", diz o chefe da AEB.

Em termos de marketing, lembra Gaudenzi, a AEB vai explorar o fato de que a primeira viagem de um brasileiro ao espaço ocorrerá no ano em que se comemorará o centenário do primeiro vôo de Santos Dumont no 14-Bis.

"Vamos marcar que o avião é uma invenção brasileira e, cem anos depois, mandamos o primeiro astronauta brasileiro ao espaço", diz Gaudenzi.