Título: Iraque: urnas indicam vitória da Carta
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Internacional, p. A10

Primeiros resultados mostravam ontem a aprovação da nova Constituição do Iraque, apesar da oposição da minoria sunita

BAGDÁ - Apesar da forte oposição da minoria árabe sunita, os eleitores iraquianos aprovaram a nova Constituição do país, apoiada pelos Estados Unidos, segundo os primeiros resultados. "Todas as indicações de que dispomos apontam para o 'sim' à Constituição", disse o chanceler iraquiano, Hoshyar Zebari, em entrevista à CNN. "A Constituição provavelmente passou", comentou em Londres a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.

"Este é um dia muito positivo para o povo do Iraque bem como para a paz mundial", disse o presidente americano, George W. Bush. "O comparecimento às urnas foi grande, maior que o das eleições de janeiro, o que é uma boa notícia", ressaltou. "Pela informações de que dispomos na última hora os sunitas acabaram participando em massa do pleito", acrescentou Bush.

Para Carina Perelli, chefe da equipe de observadores das Nações Unidas, os resultados finais do referendo levarão dias para serem conhecidos. Cada urna tem seus votos contados e recontados pelos 250 funcionários encarregados pela comissão eleitoral. "Ainda é muito cedo para fazer estimativas", acrescentou. Ela lembrou que, de conformidade com o regulamento eleitoral, se dois terços dos eleitores de três provincias disserem "não" a Carta será automaticamente rejeitada.

Saleh al-Mutlak, líder dos árabes sunitas (estimados em 20% da população iraquiana), vê cartas marcadas no referendo. "A estimativa de Rice em Londres é um claro sinal de que os resultados serão manipulados pela comissão eleitoral", acusou ele. Segundo Mutlak, 95% dos sunitas disseram "não" ao texto constitucional apoiado pelos Estados Unidos. Ele acrescentou que o fato de a votação ter sido baixa em muitas províncias xiitas (maioria da população) mostra que eles (os xiitas) também rejeitam em grande parte a nova Carta.

Os sunitas que habitam a região central do país acham que com a federalização contida no texto perderão para os xiitas, no sul, e curdos, no norte, as áreas mais ricas em petróleo - principal fonte de recursos do país.

O chefe da comissão eleitoral, Hussein al-Hendawi, calcula que entre 63% e 64% dos eleitores compareceram às urnas, desafiando a ameaça dos rebeldes fiéis ao antigo regime de Saddam Hussein, o ditador deposto, cujo julgamento começa quarta-feira.

O país continuava ontem sob forte esquema de segurança, integrado por policiais e militares iraquianos, soldados do Exército e da Marinha dos Estados Unidos e de seus aliados britânicos e de outros países. Mesmo assim, um soldado americano foi morto na região oeste do país, habitada por sunitas e onde se concentram os rebeldes.

Segundo testemunhas, houve violentos combates nas imediações de Ramadi, um dos bastiões da resistência à invasão anglo-amereicana do país. As testemunhas disseram que a aviação americana bombardeou alguns bairros da cidade. "Morreram 25 civis", contou um médico iraquiano.