Título: Lula quer modelo igual de alianças em 2006
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Nacional, p. A9

Ainda em Roma, Dulci diz que coligação de centro-esquerda tem de ser até ampliada

Depois de reservar a manhã para passeios em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou à noite com líderes da coalizão dos partidos de esquerda da Itália, tendo à frente Romano Prodi, que deve ser indicado para representá-los contra o conservador Silvio Berlusconi, nas eleições de 2006. Animado com a reunião, Lula defendeu o modelo italiano para o Brasil, ou seja, a manutenção da união de centro-esquerda para as eleições do ano que vem, para que saiam com um candidato único. Embora ainda não admita, Lula é candidato à reeleição.

O ministro da Secretaria-Geral, Luiz Dulci, que acompanhou o encontro, disse que a união de centro-esquerda tem de ser trabalhada e até ampliada. "Querermos apenas a união de centro-esquerda seria um retrocesso." Para ele, a união PSDB-PFL "é de centro-direita". "Eles não têm nada da centro-esquerda."

Prodi disse que Lula vive "um momento muito difícil" e está acompanhando sua administração "com muita atenção", esperando que "ele possa voltar a conduzir o País com rigor". Prodi e Lula trocaram promessas de apoios mútuos. Outro integrante da esquerda, Francesco Rutelli, comentou que a relação entre os dois países "poderá se estreitar ainda mais com a reeleição de Lula e a chegada ao poder da esquerda na Itália".

Numa segunda reunião, desta vez com sindicalistas e representantes de ONGs, também na embaixada brasileira, Lula falou, segundo relato dos presentes, da crise política, "do enorme trabalho que dá manter alianças" com partidos no Congresso, "principalmente os pequenos", e que "a crise foi importante para mostrar claramente quem está contra e quem está a favor do governo".

Segundo relatou Rossano Salvatore, que é ligado à igreja e representava a Comunidade Internacional de Capodarco, Lula comentou que "há uma crise no sistema político brasileiro, crise no Parlamento, crise no Executivo" e que o "poder é difícil".

O presidente dedicou a manhã para passear em Roma. Lula, a primeira-dama Marisa e comitiva saíram da luxuosa embaixada do Brasil em Roma, na Piazza Navona, pela porta dos fundos, em vans com vidros escurecidos e carros da segurança nas estreitas ruas que impediram que fossem acompanhados pela imprensa.

Até mesmo depois do passeio, as informações sobre os locais percorridos foram desencontradas. Enquanto o governador petista do Piauí, Wellington Dias, afirmava que Lula esteve na Basílica de São Paulo, o porta-voz, André Singer, dizia que ele foi à Basílica de São Pedro, ao Panteão, ao Castelo de Santo Ângelo e ao Coliseu.

"Hoje sou um peregrino", brincou Lula com Dias, ante ao comentário de que estava andando livremente, sem a imprensa.