Título: Lula volta a propor reforma da ONU
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reservou para seu discurso no final da reunião dos 22 países ibero-americanos o resgate de uma obsessão de sua política externa - a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que acabou sepultada no mês passado. Mas, desta vez, o presidente terá o cuidado de não abordar o pleito brasileiro de tornar-se membro permanente desse grupo de maior influência em questões de política e segurança internacional, conforme antecipou o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. "O presidente vai retomar a proposta sem colocar a reivindicação brasileira, por ser polêmica na comunidade ibero-americana. Quatro países resistem a essa iniciativa", afirmou Garcia, referindo-se a Argentina, Colômbia, Espanha e México. "Queremos consagrar, primeiro, o princípio da reforma da ONU. Depois, a fórmula do G-4. Por fim, ir para a final", completou, referindo-se ao grupo dos quatro países - Alemanha, Brasil, Índia e Japão - que pleiteiam o acesso ao conselho na condição de membros permanentes e prometeram apoio mútuo e ação conjunta.

A retomada dessa questão ocorrerá na intervenção de Lula na terceira e última sessão de debates da 15.ª Reunião de Cúpula Ibero-Americana, etapa em geral esvaziada pelo retorno antecipado de parte dos chefes de Estado a seus países. Chamado a falar sobre a projeção internacional dessa comunidade, Lula também abordará dois temas relacionados à ambição brasileira ao Conselho de Segurança e de algum interesse dos governos dos outros 21 países.

O primeiro será a proposta de contabilização de gastos dos governos com obras de infra-estrutura e na área de educação nos cálculos do resultado primário das contas públicas dos países que mantêm compromissos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas despesas seriam registradas como investimentos. A idéia amplia uma benesse conquistada pelo Brasil, depois de quatro anos de negociações com o fundo. No caso, o governo conseguiu subtrair da meta de superávit primário apenas as despesas em infra-estrutura.

Outro tema será o Haiti - questão tratada com cuidado pelo governo brasileiro, que lidera a missão militar de estabilização das Nações Unidas e mantém tropas naquele país.

A questão haitiana será abordada no documento final da reunião de cúpula, em uma declaração especial, na qual os países mais ricos serão cobrados a desembolsar US$ 1,5 bilhão prometidos para a reconstrução do Haiti. Somente 30% desse valor, até o momento, foi destinado ao país.