Título: Ex-dirigentes de Furnas são alvo de blitz da PF
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A12

Em busca de pistas do dinheiro que abasteceu o valerioduto (o esquema montado pelo empresário Marcos Valério Fernades de Souza para o caixa 2 do PT), a Polícia Federal realizou buscas e apreensões, ontem, em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foram vasculhados quatro endereços de pessoas ligadas à companhia hidrelétrica de Furnas, entre as quais o ex-diretor da estatal Dimas Toledo, no Rio, de onde foram levados dois computadores, disquetes e CDs.

Responsável pela operação, o delegado federal Praxíteles Praxedes afirmou, ao fim da operação de busca no apartamento de Toledo, no condomínio Riviera Del Fiori, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, que o objetivo foi "vincular possíveis irregularidades em contratos com algumas empresas". Acompanhado de três agentes, ele ficou 5h20 no apartamento de Toledo, das 9h às 14h20. "Agora tudo será analisado e processado em Brasília. Só a partir da análise teremos a comprovação." O mandado de busca e apreensão foi expedido pela 2.ª Vara Federal Criminal do Rio.

Toledo, que não estava no apartamento, foi um dos acusados pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de participar de um suposto esquema de desvio de dinheiro na estatal.

Funcionário de carreira há mais de três décadas, Toledo ocupou interinamente a presidência de Furnas no governo Fernando Henrique Cardoso

Com base em análise prévia da Divisão de Inteligência, a PF espera encontrar no material recolhido provas da relação de dirigentes da estatal com empreiteiros e fornecedores privados, suspeitos de ter pago dinheiro para o caixa 2 do PT.

Espera também levantar novos indícios de superfaturamento nas obras e serviços prestados por esses fornecedores e empreiteiros a Furnas, entre outras provas de favorecimento, corrupção e tráfico de influência.

Em São Paulo, as buscas se concentraram em dois endereços de ex-dirigentes de Furnas. O outro endereço devassado fica em Belo Horizonte.

Todo o material recolhido nos quatro locais foi levado para ser periciado no Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília.

O resultado das análises será enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para integrar o inquérito do mensalão e também para as CPIs que apuram corrupção no governo federal.

Uma delas é a CPI dos Correios, que entrou em fase de fechamento de suas investigações sobre corrupção, tráfico de influência e fraude em concorrência em empresas estatais, que teriam servido ao caixa 2 do PT, operado por Marcos Valério. A CPI constatou que a movimentação bancária das empresas de Valério foi muito além dos contratos de publicidade de suas agências.

Até agora, as CPIs dos Correios e do Mensalão apuraram muitos dados sobre a saída do dinheiro do caixa 2 do PT e pouco sobre o abastecimento das contas do valerioduto. Além de ter usado suas empresas para simular empréstimos na rede bancária e, assim, lavar o dinheiro do caixa 2, Marcos Valério é acusado de montar, junto com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, um esquema de corrupção de parlamentares da base aliada, que recebiam dinheiro em troca de apoio ao governo federal no Congresso.