Título: Alerta: CPI deveria apurar terceirização dos fundos
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A13

O ex-presidente do Refer, o fundo de pensão dos funcionários da Rede Ferroviária Federal, Jorge Moura, avalia que a CPI dos Correios está como "cabra-cega" à procura de desvios no setor. Prestes a ser convocado para depor, Moura sugere que a investigação se concentre na "terceirização" dos fundos exclusivos de investimento. Ele indica que aí pode estar uma das fontes de recursos do esquema montado pelo PT e pelo empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. Em entrevista ao Estado, o ex-presidente do Refer disse que a política de investimentos dos fundos exclusivos costuma ser repassada para um banco ou corretora. "Esses fundos são chamados de barrigas de aluguel. Não existe gestão compartilhada. Os gestores tomam as decisões com o dinheiro do fundo e ainda têm contrato que os exime de responsabilidades."

"A jogada está no administrador complacente com o que fazem os gestores. Vou sugerir que a CPI levante quais fundos de pensão têm fundos exclusivos e quais os bancos e corretoras envolvidos. Em seguida, devem quebrar o sigilo dessas instituições", disse. "É preciso abrir essa caixa preta, que não aparece com transparência nos balanços publicados."

Moura acredita que "está faltando alguém para mostrar uma direção" à CPI dos Correios. Em seu depoimento, ele pretende sugerir investigação em torno da atuação do empresário Haroldo de Almeida Rego Filho, conhecido como Pororoca. Seria um conhecido corretor, há décadas atuando nas sombras dos fundos.

Segundo Moura, Pororoca, que já teve a convocação aprovada pela CPI, atuou no Refer em associação com o ex-secretário de Comunicação do PT e ex-assessor da Casa Civil Marcelo Sereno - ligado ao deputado José Dirceu (PT-SP) - e o deputado Carlos Santana (PT-RJ), cuja mulher é diretora do fundo. Eles negam.

Ex-deputado e funcionário da Rede Ferroviária, Moura deixou a direção do Refer depois de o diretor financeiro tentar aprovar a terceirização da carteira de investimentos. Apesar de afinado com Sereno, que controlava politicamente o fundo, ele discordou. A idéia, que não chegou a ser concretizada, aumentou as desconfianças do conselho fiscal, que denunciou à CVM operações suspeitas, que resultaram em perdas de quase R$ 4 milhões. Os detalhes foram revelados pelo Estado.

Moura pretende levar à CPI informações sobre a atuação das corretoras da família Almeida Rego em outros fundos, inclusive estaduais. Ele cita como exemplo o Nucleos, dos empregados da Eletronuclear.

A gerente financeira, Fabiana de Castro, foi demitida depois de revelado seu parentesco com os Almeida Rego. Sob sua atuação, o Nucleos comprou cotas de R$ 29 milhões de fundo gerido por empresa de um filho e um irmão de Pororoca. Para Moura, os empréstimos de Valério ao PT estavam casados com investimentos dos fundos de pensão, como CDBs dos bancos Rural e BMG.