Título: Polícia não acha laudo complementar sobre crime
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A16
A polícia vasculhou ontem dois endereços do legista Carlos Delmonte, mas não encontrou o que procurava - o laudo complementar do caso Celso Daniel. No escritório particular do perito, à Rua Botucatu, 591, Vila Mariana, e na sala dele no Instituto Médico Legal foram encontrados livros, pareceres, estudos e ossos humanos, mas nenhum vestígio do documento que reforça a suspeita de que o prefeito do PT em Santo André foi torturado no cativeiro. "Não achamos nada", disse, desapontado, o promotor de Justiça Roberto Wider Filho, que integra força-tarefa do Ministério Público para investigar a execução de Celso Daniel. "Requisitamos um complemento do laudo necroscópico com 14 quesitos para ele (Delmonte) explicar a cronologia das lesões e algumas dinâmicas que não estavam bem claras no laudo principal. Pedimos a ele que traduzisse no laudo o que nos havia explicado em depoimento."
Delmonte estava trabalhando nesse laudo há quase dois meses. O que mais intriga a promotoria é que ele comentou com um dos irmãos do prefeito, João Francisco, que estava concluindo a missão. "Realmente, encontrei-me com o dr. Carlos Delmonte há cerca de duas semanas e perguntei a ele sobre o laudo", confirmou João Francisco, que é médico oftalmologista. Segundo João Francisco, o perito foi taxativo. "Já estou terminando o laudo."
"É uma coisa muito nebulosa", desabafa o irmão de Celso Daniel. "É preciso ver se não deram sumiço nesses papéis. O dr. Delmonte me disse que faltavam apenas alguns detalhes para concluir o laudo. Ele também havia guardado radiografias."
A busca nos locais de trabalho de Delmonte foi autorizada pela Justiça, que atendeu pedido do Ministério Público Estadual. Os promotores temem que papéis importantes para a investigação desapareçam. A delegada Elizabeth Sato, titular da 78.ª Delegacia (Jardins), que preside inquérito sobre o assassinato de Celso Daniel, comandou a operação. A primeira visita foi ao escritório onde o perito foi encontrado morto. São duas salas no 17.º andar do edifício Saint Paul, onde ele chegou às 3h40 da madrugada de quarta-feira.
A polícia encontrou muitos livros sobre Direito e Medicina Legal. Nenhum papel relativo ao laudo complementar. Um filho e a ex-mulher de Delmonte acompanharam a ação. "A família está colaborando bastante com a apuração", destacou o promotor Roberto Wider.
O passo seguinte foi a busca no gabinete que Delmonte ocupava na sede do Instituto Médico Legal em Pinheiros. Encontraram uma sala arrumada e ossos - ele era responsável pela oficina de tafonomia do IML, estudo dos corpos sepultados ou já em estado de putrefação.