Título: CPI vai abrir sigilo telefônico de perito para apurar ameaça
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2005, Nacional, p. A16

A Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos decidiu requerer a quebra do sigilo telefônico do legista Carlos Delmonte Printes, encontrado morto na tarde de quarta-feira em São Paulo - um mistério que desafia a polícia e a promotoria. A CPI quer saber se o perito que apontou sinais de tortura no cadáver de Celso Daniel - o prefeito do PT em Santo André fuzilado em janeiro de 2002 - estava sofrendo algum tipo de pressão ou ameaças. O rastreamento compreende os últimos seis meses, mas o período que mais interessa à CPI é a partir de 16 de agosto, quando Delmonte depôs ao Ministério Público e denunciou ter sido censurado pelos superiores. Naquele dia, o perito assumiu compromisso com os promotores que investigam a execução de Celso Daniel de elaborar um laudo complementar sobre o crime.

Para o senador Romeu Tuma (PFL-SP), que integra a CPI, "é fundamental" identificar a relação de chamadas recebidas e realizadas por Delmonte. "Temos que apurar se ele (o legista) foi coagido para não concluir esse novo laudo ou até para omitir alguma informação", anotou Tuma. "É preciso deixar claro que não estamos desconfiando dele (Delmonte), o levantamento dos seus contatos não significa que está sob investigação. Não existe nenhuma suspeita com relação a ele."

Nesta segunda-feira, Tuma entrega requerimento à presidência da CPI sobre o desbloqueio de dados de Delmonte, que havia sido arrolado pelo Ministério Público para depor como testemunha de acusação dos acusados pela morte de Celso Daniel. "O dr. Delmonte não era apenas um legista, era uma testemunha muito importante", alertou Tuma.

O laudo complementar foi requerido pelos promotores Amaro Thomé Filho, Adriana Ribeiro Soares de Morais e Roberto Wider Filho, que integram o Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado do ABC. Eles esmiúçam a morte de Celso Daniel e suposto esquema de corrupção na administração do petista. Em seu depoimento, Delmonte esclareceu que embalsamou o prefeito assassinado "por precaução, viabilizando a realização de exumação para possíveis exames posteriores".

O legista apontou "lesões de queimaduras" nas costas de Celso Daniel e outras agressões, além de sete tiros, inclusive no rosto e no peito. "Todas essas questões poderão ser melhor explicitadas em parecer complementar", ponderou Delmonte. Os promotores solicitaram a ele, formalmente, a realização do novo laudo e apresentaram 14 quesitos com dúvidas a serem esclarecidas - inclusive se "foram observadas outras fraturas, além das relatadas no laudo, no corpo de Celso Daniel." Para Tuma, "é necessário verificar se depois da audiência no Ministério Público o dr. Delmonte não recebeu ligação desse pessoal que está sob investigação". Delmonte enfrentava problemas familiares e uma forte depressão.