Título: Rebelados matam 3 em Guarulhos
Autor: Rita Magalhães e Josmar Josino
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Metrópole, p. C1

Três presos foram assassinados e 14 funcionários - entre eles o diretor de Segurança e Disciplina, Jorge Augusto Santana, - foram mantidos reféns durante 11 horas na rebelião que paralisou a Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A rebelião iniciada às 7h30 terminou às 18h30 depois de o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, aceitar a exigência dos presos: o afastamento de Santana e do diretor-geral, Aniceto Fernandes Lopes.

Logo de manhã, quando as celas foram abertas, os presidiários ligados à facção criminosa Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC) dominaram os dez reféns e mataram os colegas. Edézio José Lins da Silva, de 31 anos, suposto integrante do Comando Vermelho (CV) foi o primeiro a ser morto. Preso por tráfico de drogas, ele foi decapitado. O CV é aliado do principal rival do CRBC nos presídios: o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Os outros dois mortos - Athayde José Ribeiro Neto, o Tubarão, de 23, e Adilson de Jesus dos Reis, o Gordo, de 30, - foram mortos a golpes de estiletes. Segundo os presos, os dois, conhecidos como Tubarão e Gordo, eram delatores. Ambos estavam preso por roubo. "Eles delatavam a presença de celulares e drogas dentro da cadeia. Morreram porque eram 'cagüetas' da diretoria", disse um detento. Os corpos ficaram estirados no pátio externo.

No fim da manhã, depois da execução dos rivais, os líderes do motim exigiram a presença de Furukawa. "Se ele não vier nós vamos matar os reféns. Dois deles já estão preparados para morrer", disse um dos líderes por telefone celular.

Furukawa chegou à unidade por volta das 15h30. Ele se reuniu com oito líderes. No fim da tarde, o secretário anunciou o fim da rebelião. Segundo ele, a insatisfação maior era com o diretor de Disciplina, que estava no cargo havia quatro meses. Ele teria "imposto mudanças que desagradaram os presos".

CARTA

Os rebelados entregaram uma carta ao secretário na qual reclamam de maus-tratos aos seus parentes nos dias de visitas e de abusos contra detentos cometidos por funcionários, que estariam "oprimindo a população carcerária e humilhando as visitas com revistas vexatórias."

"Vou apurar os eventuais maus-tratos", disse Furukawa. Os amotinados queixaram-se ainda da morosidade do Judiciário para apreciar a concessão de benefícios como o do regime semi-aberto. Por fim, disseram ao secretário que estavam descontentes com a presença de presos de facções criminosas rivais do CRBC para o presídio.

De acordo com Furukawa, os autores dos assassinatos dos três presidiários vão ser identificados e mandados para o castigo em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) no Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes. O secretário garantiu às mulheres dos detentos que haverá visita normal no próximo final de semana.

Por fim, ele anunciou que Aniceto, o atual diretor do presídio, será nomeado Coordenador das Unidades Prisionais da Capital e da Grande São Paulo, ocupando o lugar de Perci de Souza. Já o diretor de Disciplina ficará afastado, sem previsão de retorno, pois está abalado psicologicamente.

O diretor-geral do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional, Antônio Ferreira, disse que um dos reféns foi torturado pelo presos. O refém era funcionário do presídio. O sindicalista não forneceu o nome da vítima, mas o secretário negou a informação. "Não há nenhum refém ferido", afirmou.

INTERIOR

Outros dois movimentos de presos ocorreram ontem no interior. Para o governo, foram "motins, que é quando os presos se revoltam sem terem reivindicações, como ocorreu em Guarulhos." Por essa classificação, ocorreram 11 rebeliões e 10 motins nos presídios neste ano.

O mais longo de ontem atingiu a Penitenciária de Avanhandava (a 490 quilômetros de São Paulo). Depois de 10 horas de revolta, detentos do PCC libertaram um agente e 20 detentos feitos reféns. O motim começou às 8h30 e foi causada pela disputa de duas facções rivais. Ele só terminou depois de acertada a transferência de 77 deles, todos seriam desafetos do PCC.

Na outra rebelião, na Penitenciária 2 de Itapetininga, os presos fizeram dez reféns depois de uma tentativa de fuga frustrada. O movimento começou às 8 horas e terminou uma hora depois. Quatorze detentos foram transferidos para uma prisão de Regime Disciplinar Especial (RDE), cuja única diferença com o RDD é o fato de o preso dormir em cela coletiva.

Durante a revista nas celas, os agentes prisionais acharam duas armas artesanais, quatro bombas caseiras, uma bomba relógio, 16 celulares e 800 gramas de maconha.