Título: Referendo pode ter 25% de abstenção
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Metrópole, p. C4

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Velloso, disse ontem em Brasília que se estima que até um quarto do eleitorado brasileiro deixará de votar no referendo sobre a proibição ou não do comércio de armas de fogo e munição, no domingo. Se a expectativa do tribunal se confirmar, o índice de faltas será recorde. Estão aptos a votar 122,1 milhões de pessoas. Segundo Velloso, numa eleição normal, na qual são escolhidos candidatos a cargos no Legislativo e no Executivo, o índice de abstenção fica entre 14% e 15%. 'No referendo, nem todos se interessam', disse Velloso. 'Está em jogo uma causa. Não chega a apaixonar', disse. 'O candidato atrai mais', acrescentou.

No entanto, o presidente do TSE considera que nos últimos tempos as pessoas estão mais entusiasmadas com o referendo. 'Notamos que as pessoas estão se entusiasmando', declarou ele.

SECA NO AMAZONAS

Pelo menos 800 pessoas de cinco comunidades isoladas no Amazonas não devem votar no referendo. De acordo com o diretor-geral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amazonas, Henrique Levy, os juízes responsáveis por três comunidades de Manacapuru, a 84 km de Manaus, e duas de Caapiranga, a 145 km, já enviaram cartas ao tribunal informando da impossibilidade de as pessoas chegarem até os locais de votação. 'Não sabemos se vamos ter condições de usar helicópteros, pois o custo é muito alto, mas todas as opções possíveis, como uso de motos e cavalos, estão sendo pensadas', disse Levy.

Os eleitores das comunidades onde já foi confirmado pelos juízes ser impossível votar não serão punidos por isso. 'Se houver possibilidade, vamos mudar a seção eleitoral excepcionalmente, e todos os eleitores daquele local serão avisados', disse Levy.

Um caso assim, segundo ele, é o da comunidade de Paracuã, em Codajás, a 240 quilômetros de Manaus. Como a comunidade está isolada, o juiz do local já avisou os ribeirinhos que o local de votação será em uma escola de mais fácil acesso em outra comunidade vizinha.

Segundo o secretário estadual de Governo, José Melo, que coordena as equipes do SOS Interior, água, mantimentos e remédios chegaram a pelo menos 25 comunidades no fim de semana.

A estimativa é que 197 mil pessoas em 914 comunidades tenham sido afetadas pela estiagem no Amazonas. Segundo Melo, do que foi prometido pelo governo federal, como mantimentos e hipoclorito de sódio (para desinfetar água), só chegaram até agora 1.900 cestas básicas. 'Mais 20 toneladas de medicamentos do governo estadual devem ser liberados amanhã', disse o secretário.

Cerca de 60 pessoas que coordenam a ajuda para o interior atuam diretamente na Base Aérea de Manaus, de onde estão saindo os aviões e helicópteros. 'Vamos ficar próximos às pistas, organizando in loco o embarque dos objetos', disse.

De acordo com Melo, hoje seguem barcos da Marinha para sete comunidades.

A seca já se faz sentir no abastecimento de Manaus. Algumas frutas e verduras estão em falta nas feiras e mercados. Feirantes não estão recebendo mais alface, tomate e repolho que vem de Iranduba, a 25 quilômetros de capital.

Segundo donas de casa, o preço do peixe mais que dobrou.