Título: Impacto da doença afeta os preços da carne no varejo
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os primeiros sinais de febre aftosa em Mato Grosso do Sul já causaram uma "antecipação de alta" nos preços das carnes no varejo. No Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) de até 15 de outubro, os preços das carnes bovinas subiram 2,80%, ante aumento de 1,46% na apuração anterior. Para o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz, o preço mais caro é devido à possibilidade de redução de oferta de carne no mercado interno, ante perspectiva de aumento no abate de cabeças para conter os focos da doença.

Nos açougues, a alta foi registrada no início de outubro e, por enquanto, se mantém estável. Mas, na avaliação do presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo, Manoel Henrique Faria Ramos, a causa do aumento pode ser a entressafra. Nos açougues, de setembro para outubro o quilo do contrafilé em média subiu de R$ 9,80 para R$ 10,80 e do acém, de R$ 6,10 para R$ 6,25.

Segundo Braz, todos os cortes de carne bovina apresentaram aumento. "Acho que os comerciantes devem estar se antecipando (a uma possível redução na oferta)", disse. Entre os destaques de alta de preços estão cortes de primeira, como alcatra (de 3,49% para 5,20%); contrafilé (3,58% para 5,19%); e lagarto plano (de 2,72% para 4,29%).

O economista informou que a elevação inicial de preços foi dos chamados cortes de carne de primeira. A maioria dos cortes de segunda e miúdos de boi não apresentaram aumento, mas alguns já registram deflação mais fraca. É o caso do corte "agulha" (de -2,24% para -1,18%); fígado (de -1,61% para -1,01%); bucho e tripa (-4,79% para -3,59%).

Para Faria Ramos, que representa os açougues, é difícil prever o que acontecerá nas próximas semanas. "Se houver uma oferta maior no mercado interno, com a queda da exportação, os preços vão cair", disse. Mas, ressalvou, se surgirem novos focos da doença pode haver redução da oferta e aumento maior de preços. No momento, disse, as vendas e o fornecimento permanecem inalterados.

O IPC-S de até 15 de outubro subiu 0,47%, acima da apuração anterior (0,39%). O indicador aumentou principalmente devido ao impacto das tarifas e preços administrados na inflação e à deflação mais fraca nos preços dos alimentos (de -0,55% para -0,33%), influenciado pela alta nos preços das carnes.

Braz comentou ainda que os preços dos alimentos no varejo, no âmbito do IPC-S de até 15 de outubro, estão começando a apresentar sinais de aceleração. "Parece que a deflação nos preços dos alimentos está com os dias contados", avaliou.