Título: Emprego recua, mas salário reage
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

O emprego industrial recuou em agosto ante o mês anterior (0,1%), enquanto a folha de pagamento real do setor reagiu com aumento de 2,2% ante julho, após dois meses consecutivos de queda. Para a economista Isabela Nunes, da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a "tendência decrescente" na ocupação nas fábricas é resultado da desaceleração no ritmo de produção. "Houve uma perda de ritmo na produção industrial do segundo para o terceiro trimestre e isso está se refletindo no emprego", explica Isabela. Na comparação com agosto de 2004, a ocupação no setor cresceu 0,3%, o que ela avalia como estabilidade. No ano, o emprego no setor acumula alta de 1,9% e em 12 meses, de 2,6%. "Ainda estamos melhores do que no ano passado, que foi um ano bom para o mercado de trabalho industrial", sublinhou a economista.

BAIXO DINAMISMO

Isabela disse que o emprego industrial não cresce com mais força porque os setores que criam mais ocupação, como alimentos e bebidas e meios de transporte, não são os maiores empregadores.

Segmentos mais intensivos em mão-de-obra registraram queda na ocupação, como calçados, com recuo de 16,1% no número de ocupados em agosto deste ano ante igual mês do ano passado.

Para os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em documento de análise dos dados, "esse baixo dinamismo do mercado de trabalho do setor foi uma das principais decorrências da política de juros adotada desde o último trimestre do ano passado".

Além disso, afirmam, "está refletindo também as dúvidas empresarias sobre a capacidade de sustentação de uma recuperação da produção industrial, a qual já ocorre desde março do corrente, mas que até agora tem tido marcada instabilidade".

Para o Iedi, o câmbio atual, com aumento de custos para exportações, também está afetando as contratações na indústria. Para Isabela, checar qual será a tendência do emprego daqui para frente, exigirá observação dos próximos resultados da produção para ver "em qual movimento a indústria vai se desvencilhar da atual estabilidade", se em direção ao crescimento ou para queda.

INFLAÇÃO

A economista Isabela Nunes, da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disse que o aumento real da folha de pagamento deve ser creditado ao comportamento dos preços: a queda da inflação acabou proporcionando ganho de renda para os trabalhadores.

A folha de pagamento real do setor teve aumento de 2,2% ante julho. Para ela, como não há aumento do número de trabalhadores ocupados, o nível de emprego não seria suficiente para engordar a folha.

O aumento da folha em agosto ante julho não reverteu, a queda acumulada de 2,5% em julho e julho. Mas, na comparação com iguais meses do ano passado, os resultados continuam positivos: 5,3% ante agosto de 2004; 4,1% no acumulado de janeiro a agosto e 3,3% em 12 meses.