Título: Especialistas vêem risco de apagão em 2009
Autor: Teresa Navarro
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Economia & Negócios, p. B9

O risco de faltar energia a partir de 2009 foi um consenso entre os representantes do setor ontem no seminário "Geração de Energia Elétrica", promovido pela Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). A conclusão é que não existem novos empreendimentos em hidrelétricas e termelétricas a serem concluídos no curto espaço de tempo, suficientes para atender ao aumento de oferta projetado em 5% ao ano, nos próximos cinco anos. "Nos últimos 3,5 anos não houve nenhuma usina entrando em operação", disse Eduardo Carlos Spalding, diretor da Fiesp e vice-presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace). Nos cálculos dos palestrantes é levado em consideração o fato de as termelétricas terem uma limitação de combustível para operarem. Nenhum dos expositores acredita que haverá gás suficiente para abastecer todas as térmicas e o mercado em geral. "O Gasbol pode ser ampliado para 30 milhões de metros cúbicos por dia e ainda contamos com a adição de 12 milhões de metros cúbicos por dia da bacia de Santos a partir de 2008, mas mesmo assim não será suficiente", diz José Ayres de Campos, diretor da Camargo Corrêa.

Hoje o consumo de gás natural está em aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos por dia. Com ampliação do Gasbol em 6 milhões e os 12 milhões de Santos, seriam adicionados à oferta 18 milhões de metros cúbicos. O fato é que se todas as térmicas operarem são necessários mais 40 milhões de metros cúbicos por dia de gás. "Nossa previsão é de que haja um lastro de 30% para as térmicas no Nordeste e de 50% para o Sudeste, mas ainda assim a oferta de gás não será suficiente", afirma.

Fontes alternativas como a biomassa (bagaço de cana-de-açúcar) ajudam mas estão longe de resolver o problema emergencial, na opinião do professor da PUC-Rio e presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas, Xisto Vieira Filho. "Sou um defensor das fontes alternativas, mas acreditar que elas têm capacidade para resolver esse déficit é irreal. Isso porque a biomassa não tem escala e depende da safra que é periódica", diz. Ele lembra que no leilão de energia nova há projetos de biomassa totalizando 800 MW, mas Vieira não acredita que todos eles terão condições de sair do papel.

A solução para garantir o abastecimento, segundo o presidente da Abraget, passa pelo compartilhamento de hidrelétrica e termelétrica à gás. O diesel, na opinião dele, pode até fazer as térmicas funcionarem, mas com um custo cinco a seis vezes maior que o do gás. "É apenas uma saída de emergência", diz. Ele propõe a melhoria da infra-estrutura do gás natural, garantindo o investimento privado tanto na exploração como na construção de novas redes de dutos. "Mas isso só vai ocorrer quando tivermos uma regulação do setor", lembra. A Abraget defende a aprovação do projeto de Lei do Gás do senador Rodolpho Tourinho, em tramitação no Senado .