Título: Governo fará 'intervenção branca' na Varig
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Economia & Negócios, p. B14

O governo federal prepara uma espécie de "intervenção branca" para salvar a Varig, informam fontes em Brasília. Pelo projeto, desenhado no gabinete do presidente em exercício e ministro da Defesa, José Alencar, o governo, como principal credor da companhia irá assumir o comando do processo de recuperação judicial. Está descartada, porém, a hipótese de o governo transformar seus créditos - cerca de R$ 4,5 bilhões - em ação da companhia. Mas o projeto envolve recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da ordem de US$ 130 milhões, e prevê a substituição do atual Conselho de Administração. O governo deverá assumir quatro dos oito assentos do conselho. Representantes do Banco do Brasil, Infraero, BR Distribuidora, credores da empresa, e mais o BNDES entrarão no lugar de David Zylbersztajn, Omar Carneiro da Cunha, Eleazar de Carvalho Filho e Marcos Azambuja. Omar e Zylbersztajn tomaram conhecimento do projeto ontem, em reunião com Alencar. "Esta semana haverá uma solução. Estamos preocupados com os trabalhadores", limitou-se a dizer Alencar, depois da reunião.

O projeto deve ser anunciado oficialmente amanhã, durante assembléia de credores da Varig, no Rio. A data foi escolhida pelo próprio governo que, por meio da Infraero, pediu a suspensão e o adiamento da última assembléia, realizada no dia 13. Caso não seja dada uma solução até quinta-feira (dia 20), a situação da companhia pode ficar seriamente comprometida, uma vez que esta foi a data estabelecida pela Justiça americana para a Varig pagar a dívida corrente com as empresas de leasing, sob pena de perder as aviões. A dívida soma US$ 63 milhões.

Para o empréstimo do BNDES, a Varig daria como garantia as subsidiárias VEM (manutenção), VarigLog (cargas) e o programa de fidelidade Smiles. Mais detalhes da proposta deverão ser definidos hoje de manhã, durante reunião dos credores governamentais na vice-presidência. Há uma discussão jurídica sobre a possibilidade ou não de se criar uma nova Varig, sem a sucessão das dívidas.

Os primeiros sinais de que haveria uma mudança na postura do governo em relação à Varig foram dados na quinta-feira passada, com o fato relevante publicado nos jornais pela Fundação Ruben Berta (FRB). Nele, a fundação dizia que estava disponibilizando assentos no conselho para os credores e que estaria disposta a abrir mão de VEM, VarigLog e Smiles. No mesmo texto, a FRB diz que estaria deixando de exercer o papel de controlador - reivindicação antiga do governo. "Finalmente estamos vendo luz no fim do túnel", comemora Odilon Junqueira, presidente do fundo de pensão Aerus, maior credor privado da Varig. "As estatais resolveram funcionar como se empresas privadas fossem e desistiram de perder dinheiro."