Título: Fracassa operação para esvaziar crise e só 2 deputados renunciam
Autor: João Domingos e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Nacional, p. A4

Fracassou a operação do Planalto para esvaziar a crise política com a renúncia em bloco de deputados ameaçados de cassação. Dos 13 denunciados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão, apenas dois - Paulo Rocha (PT-PA) e José Borba (PMDB-PR) - abriram mão do mandato ontem, poucos minutos antes de o Conselho de Ética da Câmara abrir processo contra. Com isso, 11 deputados serão levados a julgamento, num processo que tende a ser lento e pode se prolongar até abril do ano que vem, quando deverá estar começando a campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chamou a atenção o fato de que só renunciou um dos seis deputados do PT acusados de envolvimento com o esquema de caixa 2 montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares. Cinco petistas ignoraram a pressão do governo: João Magno (MG), João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP), Josias Gomes (BA) e Professor Luizinho (SP).

Também serão levados a julgamento quatro deputados do PP: José Janene (PR), Pedro Corrêa (PE), Pedro Henry (MT) e Vadão Gomes (SP). Completam a lista Roberto Brant (PFL-MG) e Wanderval Santos (PL-SP). Quem for cassado terá os direitos políticos suspensos até 2015, ficando impedidos de disputar eleições ao longo desse período.

A decisão dos cinco petistas de enfrentar o processo de cassação foi tomada depois que deu errado uma última manobra para tentar adiar o julgamento pela Câmara. No início da tarde, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um pedido de liminar apresentado por eles para que o processo fosse suspenso.

Logo após a divulgação da sentença do STF, os petistas se reuniram para discutir a situação. Alguns deles já tinham redigido suas cartas de renúncia e parecia provável quase todos abririam mão do mandato. "A renúncia, muitas vezes para a sociedade brasileira, tem o peso de uma confissão de culpa. Mas a cassação, muitas vezes, também é uma injustiça", disse Mentor depois do encontro. Ele recebeu R$ 120 mil das empresas de Marcos Valério.

O grupo avaliou, porém, que com o andamento de 11 processos paralelos é possível que alguns dos acusados escapem da cassação, que terá de ser aprovada em votação secreta no plenário da Câmara. Para se consumar a perda de um mandato, são necessários 257 votos.

"Eu tenho certeza de que vou ser absolvido. Não estou envolvido em caixa 2", afirmou João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara. De acordo com informações de Marcos Valério, a mulher do deputado, Márcia Milanésio, teria sacado R$ 50 mil de suas contas.

O Conselho de Ética vai definir hoje, por meio de sorteio, os deputados que serão os relatores dos processos contra cada um dos acusados. Pressões dos denunciados acabaram adiando a indicação dos relatores, marcada originalmente para ontem. "Toda hora recebo telefonema de alguém reclamando que o eventual relator é seu inimigo. É um problema", disse o presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP).

Dos deputados inicialmente citados nas denúncias, apenas um foi cassado, justamente o que detonou a crise política: Roberto Jefferson (PTB-RJ). Outros quatro deputados renunciaram a seus mandatos: Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), além de Paulo Rocha e José Borba, que saíram de cena ontem. E três deputados já respondiam a processo no Conselho de Ética: José Dirceu (PT-SP), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Sandro Mabel (PL-GO).

Paulo Rocha informou, por intermédio de sua assessoria, que a renúncia não foi uma decisão pessoal. Antes de tomar a decisão, ele teria consultado a CUT do Pará e sindicatos de seu Estado. Desde a manhã de ontem os funcionários do gabinete do deputado arrumavam as gavetas, numa clara demonstração de que ele deixaria a Câmara. Paulo Rocha, que já foi líder do governo na casa, é acusado de ter recebido R$ 920 mil do caixa 2 do PT.