Título: Lula: 'Mas só o Paulo Rocha renunciou?'
Autor: João Domingos e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2005, Nacional, p. A5

Foi muito grande no Palácio do Planalto a decepção com a renúncia ao mandato apenas por parte do deputado Paulo Rocha (PT-PA). "Mas só o Paulo Rocha renunciou?", reagiu o presidente Lula, durante a viagem de Roma para Moscou, de acordo com relato de um assessor do Planalto. A pressão era para que os seis parlamentares do PT acusados de envolvimento com o esquema de caixa 2 deixassem a Câmara e, com isso, carregassem consigo a maior crise política no governo. Para o presidente Lula, a simples saída dos seis petistas retiraria argumento da oposição, que insiste em acusar o governo de corrupção. O próprio presidente se empenhara pela renúncia dos petistas. Para ele e para outros importantes ministros e líderes, a decisão coletiva pela renúncia livraria o governo do desgaste que já dura quatro meses, desde que teve início o escândalo do mensalão. A pressão maior de Lula ocorreu na semana passada, antes da viagem do presidente à Península Ibérica, Itália e Rússia.

Também participaram da pressão contra os deputados o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Aldo chegou a conversar ontem com parlamentares do PT que respondem ao processo por quebra de decoro parlamentar. Disse que o melhor para todos seria a renúncia. Não escondeu o desapontamento quando viu entrar em seu gabinete o deputado José Mentor (PT-SP) que, em vez de anunciar que iria embora, entregou-lhe um catatau com uma perícia feita por Ricardo Molina, perito da Unicamp, em notas fiscais de seu escritório de advocacia.

Jaques Wagner, que na semana passada teve vários encontros com os seis parlamentares do PT para aconselhá-los a pedir a renúncia, encontrou-se ontem no Palácio do Planalto com Mentor e Paulo Rocha. Falou de novo na importância da renúncia como solução para o fim da crise.

Mentor manteve-se irredutível. Paulo Rocha sucumbiu.

Em público, o ministro Jaques Wagner avaliou na semana passada que o governo já sofreu todo o desgaste possível. Ficou claro também que a renúncia ajudaria a pôr um fim ao sofrimento do governo. O que viesse pela frente seria tomado como uma decisão positiva, em que o foco das denúncias deixaria o PT e se concentraria, por exemplo, no PSDB, que em Minas Gerais também utilizou caixa 2 na campanha de 1998, justamente com a participação de Marcos Valério Fernandes de Souza.

O Planalto chegou a costurar, nas últimas semanas, um acordo para garantir legenda na eleição do próximo ano aos petistas que renunciassem. A legenda agora terá de ser dada apenas a Paulo Rocha que, coincidentemente, é o presidente do PT do Pará. Caberá a ele mesmo tomar essa decisão. O deputado João Paulo Cunha (PA), que não renunciou, defendeu a legenda para Rocha. "É claro que ele tem o direito", disse João Paulo.